16 de abril de 2024
CoronavírusPolítica

RÉQUIEM PARA UMA CPI

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Galileo diante do Santo Ofício (1847) – Joseph- Nicolas-Robert- Fleury, Museu do Louvre, Paris.

Quando seu final é anunciado, passam de quarenta, as vítimas da Comissão Parlamentar do Santo  Inquérito do Senado,  desde sua instalação nos idos de abril.

No início da novela, o país tomava conhecimento da escalação do time misógino, de titulares e suplentes cisgêneros, e com a transmissão em cadeia de rádio e televisão, o respeitável público recebeu uma informação, nunca antes prestada pela mais alta câmara legislativa.

Dois anos depois da eleição, foi revelado  o tipo de senador que andamos elegendo.

Não foi desta vez que algum parlamentar, off the beaten track, teve a ideia de propor uma alteração na carta magna para introduzir na legislação eleitoral, o mecanismo de recall.

Antes do início do terceiro ano de mandato, os eleitores seriam convocados para confirmar o voto ou trocar de representante. Sem  substituição automática pelo suplente, salvo submissão voluntária  ao escrutínio extemporâneo.

No começo, em que pesem a história pregressa e folha corrida da maioria dos componentes da mesa diretora, com notórios de várias passagens pelo Supremo Tribunal, foi convocada gente de peso.

Ministros, ex-integrantes do gabinete e altos oficiais civis e militares,  com poder de decisão e bic cheia de tinta para ordenar despesas.

Talvez por overdose de drogas sem comprovação científica, a vereda que passa pelos  medicamentos, não levou ao destino que se anunciava: a proibição de remédios baratos e o controle da prescrição médica.

Mesmo sem ter conseguido o banimento do livre arbítrio da prática médica, não se pode dizer que esta ala tenha atravessado o samba-enredo.

A ciência ganhou uma cantora de barzinho de primeira qualidade e já se pode escolher de que lado da  terra plana se deseja pular.

Como as séries que chegam ao fim da primeira temporada sem ter emplacado o retumbante sucesso esperado, na sequência depois do intervalo regulamentar e sagrado do recesso, a retomada veio com um elenco de atores inexpressivos, saídos  dos filmes B.

Entre canastrões, trambiqueiros  e picaretas , o destaque vai pro motoboy que mostrou, com muita propriedade, as atribuições e responsabilidades da valorosa categoria funcional.

Receber da chefia imediata, um envelope recheado de documentos bancários, incluídos os pré-históricos cheques ao portador, passar incólume pela bateria de caixas eletrônicos e entregar na boca do guichê, o butim, ao competente escriturário que eventualmente devolve o troco de algum valor excedente ou documento vencido.

Não fosse a pertinente intervenção do senador, também bacharel em ciências contábeis, teria havido engarrafamento de motocicletas no corredor da comissão, correndo o risco de acabar em passeio pelo eixo monumental. Com os líderes sem capacetes. Nem máscaras.

Apesar dos senadores-delegados, uma única prisão foi efetuada, o que convenhamos,  é um desempenho deveras pífio.

E mesmo assim, o meliante pagou uma merreca de fiança e foi dormir em casa, sem ter precisado molhar a mão de ninguém.

Agora, em busca de um grand finale, anunciam a convocação da ex-esposa do ausente de maior presença.

Vai que a madame resolve abrir o preenchimento labial…

Vão prorrogar os trabalhos?

Ou a Netflix Hot Sex encomenda logo uma comédia picante  para passar no canal só para adultos?

A52F71CA-8C43-41C5-B100-5CE215AEB939Galileo enfrentando a Inquisição Romana (1857) – Cristiano Banti – Coleção particular

DFE5FBD5-6A01-4FC9-BE08-84F65DC3CBAAEl Aquelarre – Sabá das Bruxas (1798) – Francisco de Goya – Museu Lázaro Galdiano, Madri


D233B5F4-1ED7-4205-8407-5AB97B6BEF33Detalhe do Auto de Fé Presidido por San Domingo de Guzmán – Pedro Berruguete (1495) – Museo Nacional del Prado

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