O GOLPE SEGUNDO CUNHA – UMA BREVE RESENHA
Ninguém é dono da verdade.
Quem concluir a maratona e chegar ao fim das 1300 páginas da versão digital do esperado livro de Eduardo Cunha, vai entender.
A última frase justifica a versão dos fatos relatados.
Para reservar a posição que ocupará no episódio e merecido destaque quando a história do início do século XXI for contada, foi longe.
Começou na proclamação da república, e seguiu em relatos de como ocorreram as mudanças do comando político, com mais densidade, a partir da sua estreia no jogo político.
Obra de muitos nomes (a jornalista Mônica Bergamo contou 250 referências ao ex-ministro José Eduardo Cardoso) e um só personagem.
O esperto deputado, mestre na manipulação dos pares, com o dom de saber o que todo político precisa para sobreviver e exímio jogador, especializado em blefes, admite a articulação do golpe que o fez, a segunda vítima.
Anunciado desde que a prisão provisória em outubro de 2016 foi se transformando em condenações, o livro Tchau, Querida – O diário do Impeachment, criou enorme expectativa.
Trechos ainda inéditos, ocuparam capas de revistas e foram assunto das colunas mais prestigiadas.
O lançamento com data fatídica, o aniversário da abertura do processo que afastou a ciclista fiscal do poder há cinco anos, com primeira edição de 20.000 exemplares esgotada na pré-venda, é prova da ansiedade dos leitores.
A narrativa em ordem cronológica, transformada em peça de defesa no rosário de processos criminais, não consegue fazer de quem conduz o fio da estória, herói de romance ambientado no submundo da política.
Não o livra da imagem que construiu nem confere o título de malvado favorito.
Entre os personagens coadjuvantes, nenhuma descoberta secreta foi revelada.
Que o vice, o principal usufrutuário do processo, articulava o golpe, estava na cara do mordomo.
Que a presidenta deposta caiu por não entender o que se passava em sua volta, até as emas do alvorada já sabiam.
Do arrependimento de Lula na escolha do poste, ninguém nunca duvidou.
Escrito a quatro mãos com a filha que não conseguiu votos para herdar seu patrimônio eleitoral, é um roteiro sem fortes emoções.
Não produz lágrimas nem risos.
Nada acrescenta ao riquíssimo folclore político estrelado por gente mais astuta que sabida.
Quem esperava lista de espertezas, decepções e deslealdades, em doses únicas para quem calça 40 e triturado, vira farinha no mesmo saco, não vai se decepcionar.
O estilo literário é de reminiscências para serem transcritas em ata taquigrafada para constar nos anais do parlamento.
Acontecimentos conhecidos, registrados em jornais e mídias sociais, com a opinião pública já tendo feito parte do corpo de jurados e o veredicto acatado pelos juízes, se sucedem nas páginas como se em busca de aceitação como normais, esperassem.
O epílogo também não surpreende.
Na revelação que se estivesse no congresso, seria contra o impeachment de Bolsonaro, nem o General Mourão acredita.
Cunha um bandido, mas Lula, ZÉ Dirceu, ZÉ Genoíno, os bandidos de toga soltos, está errado.
Ou prende todos ou solta todos.
Por isso tem que soltar BEIRA MAR, Nem da Rochinha, liberar geral.