RETRATO DA VIDA
A harmonia das famílias foi definitivamente rompida com o acirramento da última disputa eleitoral.
Cara ou coroa.
Cordão azul contra o encarnado.
Direita, volver.
O que poderia reunir todos, levou o distanciamento (ao pé da letra) também na relação dos mais próximos, no enfrentamento da pandemia.
(Publicação original em 20/10/2019)
FAMÍLIA GRANDE
As famílias nunca foram tão pequenas e tão enormes.
Raros os casais jovens que queiram mais de dois filhos. Ao mesmo tempo, jamais se teve notícia de tantos parentes em lugares tão diferentes.
Reuniões familiares não são mais como sempre foram. Nas casas dos avós, unindo gerações, até os bisnetos.
Os mais longevos têm a ventura de conhecer trinetos. Os ainda mais venturosos, de não mediar as brigas da partilha.
A criadagem agora presta serviços nas praças de alimentação dos shopping.
As redes sociais trouxeram a possibilidade de localizar outras ramificações laterais da grande árvore genealógica.
Basta aparecer alguém com tempo sobrando, boa memória e disposição para administrar grupo de pessoas que em comum têm o mesmo sobrenome.
Aos primos mais próximos vão se somando outros, até o ponto onde o parentesco passa a ser o mesmo. Parente.
Quando termina a fase da apresentações formais,(Quem é, onde mora, filho de quem, neto de quem, casado com quem?), escapa um ou outro dado biográfico esquecido ou não autorizado.
Para a marcação da reunião presencial do grande encontro da grande família, é um pulo.
Oportunidade do reencontro, dos encontros novos e das amizades retomadas e começadas.
Cada um com sua história de vida, única mas tão semelhante às de todos os outros.
A percepção que além dos traços fisionômicos que marcam e revelam o parentesco, a procura da origem é que faz as pessoas mais parecidas.
Além dos discursos laudatórios quilométricos dos oradores saudosos de uma seleta plateia, nas confraternizações, nota-se uma divisão não declarada que poderá evoluir para subgrupos e subfamílias.
Quem pensava, apagados estavam todos os incêndios e o fogo de monturo da última refrega eleitoral, pode ter se enganado.
O assunto sempre volta, nas elucubrações sobre quais seriam hoje, os posicionamentos políticos dos antepassados, como se ligados fossem ao DNA
Conflitos abafados que se escondem nos lares das melhores parentelas, nas descobertas tardias de novos petralhas e bolsominions consanguíneos.
Cuma se diz em Acari: “Este testo é mió do que bom”.