SEM RETOQUES
Não é só a falta de tinta nos cabelos que está mostrando como realmente somos.
O recolhimento em quarentena revela muito mais.
Alguns parecem tão incomodados com o que veem no espelho e com o que descobriram ser que não pensam noutra coisa.
Flexibilizar pra fugir.
Não imaginam que em pouco tempo, estarão invejando quem consegue viver com menos.
E achando bom.
(Publicação original em 23/08/2019)
BEM DE VIDA
Ideal de todas as religiões, destaque nos manuais de ética, objetivo final das pessoas de todas as raças.
O cancioneiro já disse, até que existe.
Não tem sido fácil de encontrar com a vida tão atribulada e corrida.
Confunde-se com posse, poder e fama. Para quem quer sempre mais.
Há quem diga que é mais fácil achá-la nas coisas mais simples da vida.
Só depende de quem procura. Um dia, qualquer um (como os gregos) pode topar com seu bom demônio.
A verdade é que está por aí, disponível a todos mas poucos admitem privar de sua intimidade.
Com a família bem encaminhada, passando dos 70, ainda trabalha. Não por necessidade. A depender dele, a clientela fiel ainda vai manter o sorriso por muito tempo.
Mesmo que só atenda dois pacientes por turno. Com única exigência, têm que ser amigos do peito e das antigas.
Com a saúde restabelecida depois de penoso tratamento, nunca reclamou de complicações que a cirurgia radical causa em quase todos que a enfrentam.
Os hobbies da juventude mantidos, agora muito mais interessantes, compartilhados com os filhos.
O interesse por carros não diminui. Desde que sejam 4×4, com força pra enfrentar todo terreno e desafio.
Com muitos planos para o futuro. Todos incluindo a participação dos netos, ainda muito pequenos para tudo que tem programado. Sem pressa. Vai esperar. Tudo no seu tempo. A vida tem ensinado assim.
Quando percebeu que estavam mais raros os encontros com os velhos amigos nos lugares de sempre, reservou um dia da semana para visitá-los em suas casas.
Foi das melhores ideias. Muitos visitados voltaram aos papos coletivos.
Família grande, expandida com as noras, genro e quem mais veio junto. Sempre uma festa que nunca perde.
Oportunidade de fazer o que mais gosta. Jogar conversa fora, contar algumas piadas remasterizadas, e esperar se ainda fazem sucesso.
Em Campina Grande não tem gargalhada mais contagiante. Começa a rir pelos ombros. Depois, os 84 músculos da face e a quase convulsão de alegria.
Não é à toa seu lema, repetido quando surge uma chance. E sempre aparece.
-Vivendo e achando bom.
Inesperado foi o comentário de um amigo, seguido pelo silêncio também invejoso de outros que acabavam de desfrutar um pouco do seu convívio.
–É tanta felicidade que chega a incomodar.