19 de abril de 2024
Medicina

TESTE PARA NOVOS MÉDICOS

O jovem Aprendiz (1918) – Amedeo Modigliani – Museu Guggenheim, Nova Iorque


No início da pandemia,  aberta a discussão da necessidade  da produção de médicos à toda carga, uma estória de 40 anos serve para lembrar como eram  no início da vida profissional, as estratégias para se conseguir um bom lugar entre os notáveis, no disputadíssimo mercado de trabalho, e no hall da fama das
ciências médicas.

Já eram contados mais de  15 mil formados por ano, em escolas fronteiriças e nas fronteiras da tríplice aliança pedagógica, Bolívia, Paraguai e Argentina, dado que se misturou a tantas outras estatísticas, gestando  uma ideia luminosa, defendida com fé, esperança e oportunismo,  pelos negacionistas dos cursos interfemures.

Dispensar, à cubana, o famigerado revalida, e apressar a distribuição dos canudos e carimbos a quem estivesse próximo da conclusão, completaria todas as escalas, nas reposições dos abatidos no front.

No meio das incertezas e medo, ainda foi encontrada  uma réstia de humor  para lembrar, no tempo que  se entrava na faculdade, por funil de boca estreita, a estória do jovem pernambucano que aos trancos e barrancos, colou grau em Medicina.

Saído da linha de produção, num controle  de qualidade que poucos refuga, com pai rico e generoso, associou-se logo à conceituada clínica de boa clientela na Ilha do Leite.

Para poder se destacar entre tantos colegas talentosos e experientes, arranjou um estágio em conceituadíssimo serviço na Grã Bretanha.

Viajou por toda a Europa.

Acumulou mais horas de trem que de hospital.

Chegada a hora da volta, resolveu levar na bagagem, alguma novidade.

Na especialidade habilitada, vislumbrou a chance de fazer pela primeira vez em Nova Holanda, um procedimento tão complexo quanto impactante e promissor.

Seria uma retumbante rentrée.

Tratou de organizar um seminário para  apresentar a novidade trazida das terras da rainha, com grand finale, uma cirurgia-demonstração, ao vivo,

Quase tudo correu conforme o planejado.

Conseguiu despertar entre colegas e estudantes, a expectativa desejada .

O evento seria um sucesso, com certeza.

O grande dia e a oportunidade de afirmação definitiva, chegaram junto com uma overdose de ansiedade, beirando o pânico.

Devidamente paramentado, paciente anestesiado, rodeado por colegas ávidos por aprender aquela inovadora técnica, não contava com a participação, não solicitada, de um deles.

Ao pegar no bisturi, pronto para a incisão inicial, ouviu de trás um murmúrio desconfiado:

Hômi…

Foi o suficiente para despertar toda insegurança que vinha dissimulando, e suspender a operação.


Retrato de Leopold Zborowski (1919) – Amedeo Modigliani, Museu de Arte de São Paulo

(O caso que ilustra o texto, foi contado neste TL,  bem antes do início da pandemia, em 21/04/2019)

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