18 de abril de 2024
Recorte de Jornal

“Tomar dinheiro de miseráveis era coisa comum no tempo da escravidão”

demissao

Elio Gaspari faz uma breve- e consistente – análise da novidade da equipe econômica do Governo Bolsonaro sobre gerar receitas com base em taxação de benefícios a desempregados.

Parece reinventar a roda, quando ninguém pensou nisso antes.

Amanhã, no programava Roda Viva da TV Cultura, um dos entusiastas da novidade, o Secretário Rogério Marinho deverá explicar melhor o que , pelo texto de Gaspari, parece absurdo…

O doutor Paulo Guedes garantiu a sua presença nos anais da ciência econômica: propôs a taxação dos desempregados para financiar um programa de estímulo ao emprego.

Não se conhece iniciativa igual no mundo, nos séculos afora.

Pela proposta da ekipekonômica, os brasileiros que recebem o seguro-desemprego, que vai de R$ 998 a R$ 1.735, pagarão de R$ 75 a R$ 130 como contribuição previdenciária.

O sujeito perdeu o emprego, não tem outra renda, pede o benefício, que dura até cinco meses, e querem mordê-lo em 7,5% do que é pouco mais que uma esmola.

Se isso fosse pouco, no mesmo pacote a ekipekonômika desonerou os empregadores que aderirem ao programa do pagamento de sua cota previdenciária de 20%.

Tinha razão o poeta Augusto dos Anjos, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”, mas o doutor Paulo Guedes afaga para cima e apedreja para baixo.

Tomar dinheiro dos miseráveis era coisa comum no tempo da escravidão.

Em 1734, para combater “a ociosidade dos negros forros e dos vadios em geral” a Coroa cobrava quatro oitavas de ouro a cada bípede livre que vivia na região das minas.

Em 1835 a Assembleia da Bahia tomava dez mil réis de todos os negros libertos nascidos na África. Esse imposto rendia um bom dinheiro, algo como 7,6% do orçamento da província. Eram tungas de outra época.

No século XXI, a ekipekonômica de Guedes quer arrecadar R$ 11 bilhões em cinco anos com argumentos mais refinados e cosmopolitas.

Como o programa de estímulo ao emprego (e à propaganda oficial) gera despesa, deve-se indicar uma fonte de receita para custeá-lo.

Sob o céu de anil deste grande Brasil, os doutores miraram no bolso dos desempregados que conseguem acesso ao seguro, um benefício restrito aos trabalhadores do mercado formal.

One thought on ““Tomar dinheiro de miseráveis era coisa comum no tempo da escravidão”

  • observanatal

    Realmente, não enxerga quem é cego.
    Que se traga algo novo, mas até agora, sem paixões estúpidas extremistas, taxar quem está desempregado é de uma perversidade atroz. O que não surpreende o abraço de Rogério Marinho, o grande papa potiguar de conhecimento econômico, ao assunto.
    O ex-deputado federal, rejeitado pós-reforma trabalhista, necessária mas cruel, tem a missão de criar uma classe social abaixo da miserabilidade. Ele está no caminho certo. Empresários acima de tudo, Deus só de olho, estupefato.

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