20 de abril de 2024
Comportamento

TRABALHO INVEJADO

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Há um ano, ainda se acreditava que a reforma nas leis trabalhistas iriam ajudar a empregar milhões.

Agora, com o desemprego na conta da pandemia, é impossível avaliar seus efeitos.

Ficam as estórias de uma classe de trabalhadoras em processo de extinção.

Agora, quase todas, diaristas.

Sem direito nem ao vale-transporte.

            (Publicação original em 14/08/2019)


VIAJANTES DO TEMPO

A liberdade já não abre as asas sobre nós como na infância querida que os tempos não trazem mais.

Todo cuidado é pouco.  Mesmo para quem anda na linha, o perigo não é mais só ser pego pelo trem.

Olhando para os vagões de trás, como mudaram as relações  entre patrões e secretárias domésticas.

Estavam muito mais para livre mercado que resquícios da escravatura.           

A lei sempre respeitada.

A da oferta e da procura.

Havia livre negociação.

Da jornada de trabalho e do pagamento semanal.

Períodos de descanso e aquisitivos de férias. Decididos na mesa de negociação, na cozinha.

Bônus de festas de fins-de-anos em forma de cortes de tecidos, prenunciavam o  ainda inexistente 13°.

Agora, abram dos olhos.                                           Todo cuidado é pouco.

Há perigo na esquina, na junta de conciliação e no e-social.

A mocinha do sítio que vinha estudar na cidade e ajudava na faina e no pastoreio da prole, em troca de um lugar pra armar a rede, comida farta  e roupa usada semi-nova, não era considerada vítima de crime hediondo.

Pelo menos o trabalho de um grupo privilegiado delas, foi objeto de cobiça. Mesmo que a atividade laboral não fosse das mais aromáticas.

Limpadoras de vasilhames de ágata mantidos embaixo das camas, para coleta dos dejetos.

Quando não se falava ainda em suítes masters.

Prestando serviços para família de posses, sobrado espaçoso, armazém, posto de gasolina e da única linha de ônibus para a capital, as moiçolas fardadas, bem penteadas e arrumadas, causavam admiração no passeio vespertino.                                    

A bordo dos carros mais possantes e desejados.

Ou quando embarcavam, sem nada pagar, nas modernas sopas Ciferal da Viação Riograndense.

Até hoje, ao anúncio de qualquer viagem, o mesmo sentimento ancestral de inveja aflora entre os antigos munícipes:

-Fulano está viajando mais que as peniqueiras de Antônio Flôr.

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