19 de abril de 2024
Opinião

Truculência não é caminho para união e entendimento

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Até a semana passada nosso Rio Grande do Norte era um exemplo de entendimento dos seus governantes num país ameaçado e conturbado por uma ameaça que se aproximava mais forte, encurralando as mais ricas nações do mundo.

Foi ai que a Governadora do Estado foi levada a tomar uma decisão contrariando sua própria trajetória. Fátima Bezerra chegou ao Governo respaldada por 30 anos de atuação no movimento sindical, onde sua bravura não era medida por nenhum ato de truculência, mas de entendimento, e sua capacidade de negociar e agregar.

Na quinta-feira, véspera dos feriados da Semana Santa (mesmo no meio da maior quarentena em cinco séculos de colonização ocidental cristã), o Governo do Estado decidiu impor regras mais rígidas para cumprimento da isolamento social imposta num decreto vigente na tentativa de conter o avanço da panemia do corona vírus, e noutro decreto impôs horário de funcionamento do comércio, decisão tomada como um modelo de autoritarismo e truculência.

MANDA QUEM PODE

No melhor estilo “manda quem pode e obedece quem tem o juízo no lugar”, a imprensa foi convocada e a própria Governadora ao vivo, em entrevistas à televisão anunciou o arroxo, quando o Governo Federal deixava vazar a sua vontade de amolecer as restrições que haviam sido estabelecidas para os brasileiros, mesmo contrariando a orientação da Organização Mundial de Saúde.

É um triste exemplo de que, muitas vezes, mesmo quando adota um ponto de vista correto, os governos podem pagar pela escolha equivocada da forma inadequada para anunciar uma decisão acertada. Começou por um detalhe. E, quando não se valoriza o detalhe, muitos terminam pagando um alto preço.

A ação do Governo do Estado começava por uma intervenção no funcionamento dos supermercados. O público entendeu que o Governo anunciava o fechamento na sexta-feira e no sábado, dois feriados da semana santa. O resultado imediato foi o contrário do que de pretendia. Os supermercados se encheram de gente, antecipando a aglomeração de pessoas que se pretendia evitar e desestimular.

CHOQUE DE COMPETÊNCIAS

Se o objetivo da iniciativa era mostrar um governo atuante no cumprimento do seu dever, defendendo a população e a figura da Governadora do Estado assumindo o Comando e exercitando o diálogo na verdade exercido – apenas – com os apresentadores de TV a quem explicava o que havia definido com os seus auxiliares, o resultado final foi adverso.

Ninguém no staff governamental se lembrou que a definição de horário de funcionamento dos supermercados é competência legal das Prefeituras, embora decretação numa situação de calamidade pudesse justificar a excepcionalidade das medidas já tomadas em nível estadual.

Como faltou um telefonema – um simples telefonema – do Governo para as Prefeituras, os Prefeitos, surpreendidos, decidiram reagir, começando por Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante. Além de Mossoró.

Álavro Dias, o Prefeito de Natal, candidato à reeleição, foi rápido no gatilho e soltou um decreto imediatamente autorizando o funcionamento dos supermercados na sexta e no sábado da semana santa, além do domingo de Páscoa, atendendo aos supermercadistas, à população e ao bom senso, e contrariando o decreto do Governo.

UM MAU EXEMPLO

Em termos nacionais o Brasil vivia uma situação de completo “no sense”, com a figura do Presidente da República confrontando as decisões do seu Ministro da Saúde, exatamente no que se relacionava com as medidas de cautela da população, em matéria de isolamento social.

O Ministro da Saúde, o mais aplaudido pela população em razão da política implementada no combate ao coronavírus terminou provocando crises de ciúme do próprio Presidente e dos seus familiares, como se ele não fizesse parte do seu Governo.

Como o assunto tem movimentado o noticiário os governadores dos estados resolveram emprestar apoio ao ministro Henrique Maneta e o nosso RN pode ter entrado nessa, num momento em que algumas das suas ações parecem atrasadas.

A partidarização da crise não é um bom caminho e não ajuda em nada a melhoria da qualidade dos serviços médicos oferecidos à população. Muito pelo contrário.

A GUERRA NÃO TERMINOU

Segundo as autoridades que cuidam o do assunto, o pico do crescimento dos casos de corona vírus vai acontecer no mês de Maio, embora exista a possibilidade disso chegar aos estados de maior incidência ainda que possa haver posteriormente um rescaldo nos estados menores.

Isso mostra a necessidade de uma nova arrumação da forma de atuação dos Estados e Municípios, todos com carência de recursos para enfrentar o enorme desafio que temos pela frente.

O desarmamento dos espíritos poderia ser um bom recomeço e a criação de um grupo único para cuidar do assunto. Por menos que seja a ação desse grupo, pelo menos não correremos mais o risco de termos a repetição do que aconteceu na semana passada.

Além de oferecer um mínimo de tranquilidade para a população que não pode viver com a discordância pública de suas autoridades, numa hora de crise como a que estamos vivendo e que todos reconhecem a necessidade de união para enfrentar a panemia.

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