23 de abril de 2024
MemóriaPolítica

TUDO PELO VOTO, MENOS A HONRA

 

Eleição para o comitê dos camponeses pobres (1939) -Arkady Plastov – Galeria Tretyakov, Moscou


Artistas e políticos devem ir aonde o povo está.

Durante o pico da pandemia, nas cercanias da Serra da Barriguda, uma prefeita passou a distribuir os objetos de desejo da população, mas foi proibida.

Exagerando no marketing,  entregou  máscaras e álcool em gel, com a qualidade do serviço SEDEX, de casa em casa, pessoalmente.

Em outras épocas de outras viroses igualmente mortais, em outro vale semi-árido, um inesquecível personagem sabia da algazarra que a estudantada fazia ao final das aulas noturnas e viu ali, plateia para divulgar suas propostas.

Quando as campanhas políticas eram menos regulamentadas, valia  todo sacrifício para aprisionar o voto livre.

Na corrida por um assento, sem remuneração, na câmara  dos vereadores, nenhum candidato parecia atender aos anseios do eleitorado jovem.

O mesmo sentimento nunca esquecido que levou, no  final dos anos 50, uma abada que havia sido emprestada ao jardim zoológico, receber mais de 100 mil votos e ser a mais votada vereadora na maior cidade do país.

Cacareco foi também a primeira transsexual eleita. Fêmea, todos a tratavam como se macho fosse.

A moda, ainda não a de gênero, pegou, e espalhou-se pelo Brasil afora.

Há quem diga que elegeu até cachorro grande em eleição presidencial.

Com esse tipo de votos, por pouco não foi construída uma ponte ligando Natal a  Fernando de Noronha.

Na rainha do agreste, estudantes  escolheram Joca, o oleiro.

Investiram na sua candidatura e na forte identificação gráfica da campanha.

Uma telha.

Toda noite, depois das aulas, uma pequena multidão descia as ladeiras com o candidato nos braços, ombros e telhados do povo.

Na reta final da disputa, a estratégia de propaganda esteve ameaçada.

Não por falta de votos, que o ceramista foi eleito e virou edil verboroso, mas por desistência.

Depois que numa passeata das mais animadas, um dedo gaiato foi enfiado orifício a dentro:

Vôtes! Desse jeito, nem pra senador…                                 

 

Indo para a eleição (1947) – Arkady Plastov – Galeria Tretyakov, Moscou

(Episódio registrado no TL em 21/06/2020)

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