TUDO PELO VOTO, MENOS A HONRA
Artistas e políticos devem ir aonde o povo está.
Durante o pico da pandemia, nas cercanias da Serra da Barriguda, uma prefeita passou a distribuir os objetos de desejo da população, mas foi proibida.
Exagerando no marketing, entregou máscaras e álcool em gel, com a qualidade do serviço SEDEX, de casa em casa, pessoalmente.
Em outras épocas de outras viroses igualmente mortais, em outro vale semi-árido, um inesquecível personagem sabia da algazarra que a estudantada fazia ao final das aulas noturnas e viu ali, plateia para divulgar suas propostas.
Quando as campanhas políticas eram menos regulamentadas, valia todo sacrifício para aprisionar o voto livre.
Na corrida por um assento, sem remuneração, na câmara dos vereadores, nenhum candidato parecia atender aos anseios do eleitorado jovem.
O mesmo sentimento nunca esquecido que levou, no final dos anos 50, uma abada que havia sido emprestada ao jardim zoológico, receber mais de 100 mil votos e ser a mais votada vereadora na maior cidade do país.
Cacareco foi também a primeira transsexual eleita. Fêmea, todos a tratavam como se macho fosse.
A moda, ainda não a de gênero, pegou, e espalhou-se pelo Brasil afora.
Há quem diga que elegeu até cachorro grande em eleição presidencial.
Com esse tipo de votos, por pouco não foi construída uma ponte ligando Natal a Fernando de Noronha.
Na rainha do agreste, estudantes escolheram Joca, o oleiro.
Investiram na sua candidatura e na forte identificação gráfica da campanha.
Uma telha.
Toda noite, depois das aulas, uma pequena multidão descia as ladeiras com o candidato nos braços, ombros e telhados do povo.
Na reta final da disputa, a estratégia de propaganda esteve ameaçada.
Não por falta de votos, que o ceramista foi eleito e virou edil verboroso, mas por desistência.
Depois que numa passeata das mais animadas, um dedo gaiato foi enfiado orifício a dentro:
Vôtes! Desse jeito, nem pra senador…
(Episódio registrado no TL em 21/06/2020)