Turismo pode vencer a crise
Por Roberto Medina, criador do Rock in Rio, no Globo
Imagine a Cidade do Rock silenciosa e às escuras. É lógico que um público imenso pararia de vir ao Rock in Rio.
Algo assim está acontecendo com a nossa cidade. Neste ano deixamos de ser um dos cem destinos mais visitados do mundo.
Enquanto isso, turistas brasileiros gastam anualmente R$ 70 bilhões no exterior. Conquistar uma parte desta quantia para o Rio seria fácil se tivéssemos uma política pública consistente para o setor.
Mesmo sem um calendário de even- tos e quase nenhuma comunicação, nosso estado é a porta de entrada do tu- rismo interno e externo. O Rio segue sendoacaradoBrasil.Aindaqueinci- piente, a entrada de visitantes impacta a economia local em R$ 27 bilhões.
O Rio está preparado, o poder público precisa se preparar. Aeroportos novos, a mais moderna rede de hotéis da América do Sul, novos espaços para grandes eventos. O Rio está pronto pa- ra ressurgir mais justo, próspero, com menos diferenças sociais, a partir de um calendário de eventos estrutura- do, como o proposto no projeto Rio de Janeiro a Janeiro.
Com investimentos inteligentes em comunicação nacional e internacional poderíamos criar 200 mil novos empregos e um impacto na economia de R$ 6 bilhões, já no primeiro ano.Os números são da FGV.
Estamos falandode R$ 200 milhões em eventos novos e na ampliação dos que já existem, apoiados por R$ 180 milhões em comunicação. Comparados com as receitas do estado e da prefeitura, isso é pouco.
Turismo é mais escolas, turismo é mais saúde pública, turismo é mais empregos. O Rio está pronto para receber o turista e quando recebe é com aprovação total.
Tanto na Olimpíada como no Rock in Rio, 90% declararam a intenção de voltar. Mas nada fa- zemos para que eles voltem e venha mais gente. Com investimentos estra- tégicos e zeladoria cuidadosa, tería- mos uma cidade ainda mais atrativa.
Vivemos numa metrópole descuida- da. Traçando um paralelo, seria como se eu fizesse a Cidade do Rock e não colocasse nem som nem luz. O mais difícil está feito. Que o poder público arregace as mangas e desenvolva um conjunto de ações que nos devolva a autoestima e a esperança.
TL COMENTA: Natal poderia substituir o nome Rio no artigo de Medina, guardando as devidas proporções dos números, claro. Mas o Carnatal não pode ser visto apenas como um evento isolado no calendário da cidade. Além da infra-estrutura básica, o que se tem feito de ações no Turismo para aproveitar esse público cativo que desembarca há 29 anos na capital potiguar? Que tal um balanço da festa que leva o nome da cidade para os quantos cantos do Brasil com ordem e método?
O Carnatal já foi colocado como evento de atração turística, mas com o tempo essa concepção foi morrendo.
As pessoas, erroneamente, acham que os eventos da cidade trazem falta de investimento em outras áreas. Quando temos festas de qualidade, o dinheiro circula na cidade, impostos são arrecadados, e quem trabalha na informalidade também tem seu ganha pão. O dinheiro dessa arrecadação ajuda no pagamento de salários e investimentos em outras áreas. É assim em grandes cidades do mundo, mas em Natal é pecado. Só não é pecado quando um reclamão desse viaja pra algum lugar para curtir esse tipo de festa.