UM CLIENTE INSATISFEITO
O presente perfeito só existe na cabeça do presenteado. O acerto foge do domínio de quem escolheu o mimo com tanto capricho.
O que não se faz para agradar um neto de quatro anos?
Já tão grande e pesado que o avô andou alertando que mesmo devoto de São Cristóvão, não tinha mais tanta força para carregá-lo no colo, braços, muito menos, em cadeirinha, nos ombros.
O impasse acabou em acordo firmado, na proposta conciliatória partida da corpulenta carga viva.
–Continua, vô. Pelo menos até eu completar cinco anos.
O tão esperado papai-noel não agradou completamente.
Adquirido depois de exaustiva pesquisa das necessidades do cliente, que incluíram acessos aos melhores sites especializados e visitas de prospecção a todas as lojas dos shoppings.
Não faltou nem o elemento surpresa, com despistes que incluíram a entrega em embalagem clamuflada de roupas infantis.
Ainda em meio à montanha de papéis coloridos, caixas rasgadas e procura por partes perdidas na sofreguidão das montagens apressadas dos brinquedos, a revelação.
O freguês, aparentemente atendido nos seus desejos, não estava completamente satisfeito.
É hora de fazer como empresas mais competitivas e aplicar técnicas de pós-vendas.
Conhecer a fundo, seu cliente. Colocar-se no seu lugar.
Empatia é a alma do negócio.
Aquele era o momento ideal para demonstrar preocupação com a satisfação total do consumidor.
Sem dúvida, a oportunidade de acertar com precisão, o alvo.
Da próxima vez.
A conversa sincera, olho no olho, revelou que a encomenda recebida era de boa qualidade.
Marca conhecida. Compatível com outras peças do acervo do novo proprietário.
Apesar das aparências, a conclusão foi que a pista do Hot Wheels do Luigi não era bem o objeto dos desejos do Luiz.
O que ele queria era muito diferente.
Na verdade, um robô.
Não um desses, de faz de conta, de brincadeirinha. Nem daqueles que varrem a casa toda, até os cantos da sala.
Mesmo os que são anunciados para um futuro próximo, com promessas de tantas funções como pegar cerveja na geladeira e achar chaves perdidas, estão longe de atender os anseios do pequeno usuário de novas tecnologias.
O autômato idealizado deve ter funções a serem desempenhadas nos afazeres domésticos e na escola em casa.
A próxima data a merecer presentes e o Coelhinho da Páscoa passam a ser ansiosamente aguardados.
Que venham na companhia de uma geringonça que arrume a bagunça do quarto, guarde todos os brinquedos espalhadas pela casa, faça às vezes da professora e principalmente, substitua uma médica endocrinologista em todos as suas obrigações, incluídos os intermináveis plantões.
–Quero ficar o tempo todo com minha mãe.