19 de abril de 2024
Opinião

Um Estado incapaz de formular o seu futuro importa até plano da retomada

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 06/05/20

Nosso Rio Grande do Norte tem 60 anos de história de Planejamento na sua administração pública. Desde os tempos do CED (Conselho Estadual de Desenvolvimento) chefiado pelo jovem técnico Geraldo José de Melo, nos anos 60, fazendo as vezes de uma secretaria estadual de planejamento e falando a linguagem introduzida no Nordeste pelo paraibano Celso Furtado que estava instalando a SUDENE, entidade que trouxe uma mudança de conceito na gestão pública nordestina.

Embora novas gerações de planejadores tenham passado pelos seus quadros, sob o comando de Benivaldo Azevedo, Ênio Melo, Marcos César Formiga, Manoel Pereira, Ivanaldo Bezerra, Jaime Mariz e tantos outros, já faz tempo que ações de maior visibilidade, tenham saído do setor público.

Faz seis anos que documentos de visibilidade, na área de planejamento no RN, tem origem na empresa pernambucana, Marcoplan, trabalhando para a FIERN, enquanto o setor público se mostra ausente na produção de documentos com grande capacidade de repercutir em outras áreas. Nosso planejamento estadual, na prática, foi privatizado.

FÁBRICA DE PAUTAS

De 2014 pra cá, no mínimo, na produção de pautas para os meios de comunicação, o projeto “Mais RN, tem tido o virtual monopólio nas áreas de planejamento e desenvolvimento do Estado.

Coincidentemente, por mais paradoxal, isso aconteceu, justamente quando o Rio Grande do Norte saiu do batalhão com maior índice de crescimento no Nordeste para acumular o pior desempenho em matéria de desenvolvimento econômico na região.

O RN que havia sido turbinado pela presença da Petrobrás com as descobertas de petróleo e gás, na virada do século havia perdido a prioridade nos investimentos da estatal com as descobertas no Pré-sal, e parece ter se acomodado com as posições de destaque conquistadas mesmo sem qualquer iniciativa local, e foi acompanhando sua própria ultrapassagem pelos outros Estados nordestinos. O “Mais RN” era exceção na descoberta, por aqui, de assuntos otimistas.

PLANO DA RETOMADA

Agora, na hora em que se descobriu a necessidade de examinar o que pode acontecer no retorno à normalidade, depois que a pandemia desmantelou os meios de produção em todo o mundo, como ninguém havia formulado nada da questão do ponto de vista do Rio Grande do Norte, eis que a Fiern convoca mais uma vez a Marcoplann para colocar no papel o ”Plano de Retomada Gradual, da Economia Potiguar”.

De junho de 2014 para cá, não tem dado outra, na cheia ou na seca, na normalidade ou diante de qualquer imprevisto que a Federação das Indústrias precise se pronunciar, eis que a Marcoplan é convocada para elaborar um documento ou protocolo. Se este não tem conseguido mudar o panorama apresentado, consegue provocar muita discussão e gerar notícias, com um alto padrão na forma de apresentação dos assuntos.

O primeiro desses documentos foi elaborado para oferecer um diagnóstico do Rio Grande do Norte assim como as oportunidades para investimentos em diferentes setores da economia nos idos de 2014, assim como soluções para diferentes problemas que identificou. Desde essa primeira versão que ideias não tem faltado. O primeiro tinha 60 projetos diferentes. Se algum foi executado, não se sabe…

FORMULAR É PRECISO

Realizado para dar à Federação das Indústrias visibilidade na campanha eleitoral de 2014, a vitória de Robinson Faria, tido como um candidato azarão, que não tinha um plano para apresentar, o MAIS RN ganhou novo status: ótimo para quem tinha pretensões bem menores. Isso terminou fazendo do “Mais RN” a bíblia de Robinson e a do seu governo.

O resultado foi muito melhor do que se poderia imaginar. O documento da Fiern virou uma permanente fonte de consulta para os vitoriosos, tanto no diagnóstico dos problemas estaduais, quando nas soluções propostas.

Desde então muitos políticos locais se sentiram dispensados de qualquer nova formulação. Num Estado quebrado, com os governantes reduzidos a pagadores da folha de pessoal, os estímulos para a formulação de políticas sem recursos para operacionalizá-las, o “RN MAIS” virou o Vade mecum do Rio Grande do Norte para políticos e gestores.

CAMINHOS DO RN

Quatro anos depois, mesmo a candidata Fátima Bezerra tendo realizado inúmeras assembleias e debates para discutir o RN, não conseguiu tirar o brilho do “Mais RN”, já tido e aceito como indicador dos caminhos para o RN “superar dificuldades, projetando um processo contínuo de desenvolvimento.”

Assim, como mais uma vez ninguém tratou da planejar o que fazer na volta à normalidade depois do arraso resultante da pandemia que virou o mundo de ponta-a-cabeça, melhor se equilibrar sobre os quatro eixos do MAIS RN, mesmo aqueles que tem consciência do Estado continuar acumulando tantos MENOS e poucos MAIS. Até para quem ainda acredita que “O Rio Grande do Norte é rico sentado numa botija e pedindo esmola”, como era alardeado no começo dessa história.

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