UM PRÊMIO PARA TODOS

Mesmo em tempos de recolhimento, a premiação dos melhores do ano que passou, não foi dispensada.

Nos ecos das listas  dos melhores do cinema,  quem não gostaria de receber reconhecimento e  distintivo do precioso metal, por algum feito, fora da ficção das telas, na dura realidade da vida real?

Recompensas cheias de significados e valores.

Uma, de enorme aclamação pública, globalizada, traz imensas possibilidades para os vencedores.

De mais trabalhos, glórias e ganhos no futuro.

Outra, só para satisfação pessoal, indica, simplesmente, a chance de uma vida mais saudável.

E a esperança, que venha a ser mais longa.

Os ganhadores dos Oscars levam as estatuetas para  suas estantes e biografias, comprovando que estão entre poucos.

Os melhores entre os  melhores.

Quem ganha um distintivo de ouro por ter acabado de completar, no mínimo, seis horas por noite, por 21 dias seguidos, de terapia do sono, não tem como expor o laurel merecido.

O prêmio, pintado de dourado, como o homúnculo de Hollywood, é apenas virtual.

Instituído pelo fabricante, como incentivo para o correto uso do aparelho que envia um fluxo contínuo de ar para as vias respiratórias, por meio de uma máscara, evitando a apneia do sono.

O poder do mérito, sempre exercido em todas as esferas do relacionamento social, apesar de gerar distorções por não levar em conta as origens e oportunidades que não são iguais para todos, é modismo.

Até no nome. Meritocracia.

A ditadura do melhor, do mais forte, do mais esperto, não pode alijar aqueles que fazem com esforço e só por vontade de melhorar, sempre.

Premiar o empenho é a melhor forma de garantir o êxito.

Desde o condicionamento clássico de Pavlov, passando pela reflexologia, até as modernas técnicas para converter e tornar fiés, os consumidores.

A primeira grande premiação da vida, fica quase esquecida nas mais inacessíveis prateleiras da memória.

Foi sempre  anunciada aos quatro cantos e ventos, gerando premeditada expectativa, com interminável (para o concorrente) antecedência e extenso rol de testemunhas familiares.

É merecedor quem alcança  bom comportamento e melhora o desempenho e as notas na escola.

Com pompa e cerimônia, é feita a entrega, no natalício ou de papai-noel, do segundo veículo autônomo sobre rodas.

Diferente do primeiro, velocípede, troféu sem outros merecimentos, a não ser a própria idade.

Nas galerias dos melhores, nos funcionários do mês, nos campeões de vendas, destaques, buscam-se os mais capazes. Os mais competentes. Os mais lucrativos.

Independente das conquistas e alcances terrenos, todo mundo merece estufar o peito, pelo menos uma vez, ao ouvir seu nome, quando o mestre de cerimônias do espetáculo da existência disser:

... E o prêmio vai para…