UMA CENA DA VELHA GUERRA
(Publicação original em 16/04/2019)
São outros os peregrinos.
Antes. Doentes, pacientes.
Hoje. Doença, endêmica.
Em novas e todas as terras, pandêmica.
Tempos velhos de guerra disputada vis a vis.
Novas, modernas, de legiões recolhidas em alerta total, em suas casas. Poucos nas linhas de frente, nos campos de batalhas.
Aos jovens, bravos guerreiros, uma amostra de como era a lida dos antigos combatentes.
Que ainda não mudou.
PACIENTE D’ALHURES
Em toda atividade profissional sempre há competição e ciumeira entre colegas.
Não tenho dúvida que a campeoníssima é a Medicina.
Entre os hipocráticos arde mais a fogueira das vaidades. Mesmo levando-se em conta tantas frustrações e sentimentos de impotência inerentes ao ofício.
Na sala dos médicos, lugar onde os guerreiros-cirurgiões repousam e aproveitam para botar todo tipo de assunto em dia, escuto o lamento de um colega.
Trabalhando duro há muito tempo, já sonhando com a aposentadoria, tinha angariado razoável clientela.
Pacientes, basicamente, de Natal e arredores. Raros aqueles que o procuravam vindos do Oeste ou mesmo do Seridó.
A reclamação, em tom de inveja, era que um colega muito mais novo, estava operando naquele momento um paciente vindo do exterior. Coisa que nunca havia acontecido com ele.
Espantado como a fama do invejado havia chegado tão longe, até ao estrangeiro, perguntou-me onde ficava o Sudão.
Curioso, resolvi esclarecer o assunto.
Naquela época o Sistema Único de Saúde, SUS, era também Descentralizado.
O paciente havia internado pelo SUDS, jocosamente apelidado pelo Otorrino brincalhão, pelo aumentativo da sigla, homônimo do país do norte da África.