20 de abril de 2024
HistóriaMeio Ambiente

UMA TRAGÉDIA QUASE ESQUECIDA

 

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Laskarina Bouboulina – Museu Histórico Nacional de Atenas – Autor desconhecido


O que foi anunciado como o maior desastre ecológico jamais ocorrido em praias nordestinas, completa dois anos.

E parece passado remoto.

Debite-se o esquecimento,  na conta da pandemia, que viria, três meses depois, provar a segunda lei de murphy: nada está tão ruim que não possa piorar.

Sem tempo para outros assuntos que não os médicos, epidemiológicos e neo-científicos, todas as previsões dos ecologistas e  professores-doutores, que os efeitos da poluição seriam observados por décadas, deixaram de ser acompanhadas. Ou simplesmente, não aconteceram.

E nunca foram incluídas na imensa lista das scientific fakenews.

As causas dos estragos resolvidos pelas pessoas do povo, com pouca ajuda dos governos, não foram apuradas.

Uma CPI anunciada, foi atropelada por outra de valor mais alto que se alevantou em frente ao horizonte dos holofotes.

O principal e único suspeito, o navio grego que passou ao largo da costa, sem deixar rastros nem impressões digitais, teve seus minutos de fama, para logo desaparecer, levado pela corrente sudeste.

Na sua espuma, ficou a história de uma heroína pouco conhecida nas terras de outra, Clara.

O  nome que não batizou as filhas de quem garimpa originalidade em onomásticos exóticos, é bem conhecido dos paulistanos  da Barra Funda, onde em simpática taverna de esquina tranquila, com mesas espalhadas pelas calçadas,  convivem em paz as culinárias grega e turca.  O chopps e o ouzo.

Do outro lado do mundo, no porto de Pireu, anúncio de restaurante, da sofisticada alta gastronomia mediterrânea.

Se engana quem associa o nome comum, Laskarina a um grande chefe de cozinha ou a alguma iguaria exótica.

Quando no jogo de cartas marcadas, de pai para filho, sem brigas, só com um único e ensaiado grito, conquistávamos a nossa, os fundadores da Democracia  estavam em luta sanguinária pela deles.

Na Independência conquistada nas hercúleas batalhas  contra o império otomano, uma heroína fez nome e história

Nascida numa prisão em Constantinopla, onde o pai cumpria pena e veio a falecer, foi criada em Hydra sob a proteção dos deuses e da rainha Iemanjá.

De ilha em ilha, a paixão pelo mar.

Em Spetses,  pelos homens, ancorou.

Mais uma helena  à espera dos viageiros, duas vezes jogados ao mar com todas as honras que só capitães de longo curso recebem.

Na nesga de terra firme, sete filhos pra criar e uma imensa fortuna amealhada, a cuidar.

Ao invés dos longos bordados, teceu grandes navios.

Agamemnon, a jóia da sua coroa de louros, com 18 canhões, venceu a guerra e seus sultões e libertou as mulheres dos haréns.

A vida, finda aos 55 anos numa batalha sem fama. Um tiro de vingança em pagamento ao furto de uma moça pelo filho apaixonado.

A contra-almirante Laskarina foi a primeira mulher condecorada pela marinha russa.

Em cada cidade grega, uma rua tem seu nome.

No coração e nas mentes dos compatriotas, veneração.

Vida, glória e memória perpetuadas em museu insular, parecem sepultadas  em águas tropicais.

Em pouco tempo, pelos mares, parrachos, mangues e praias de terras tão distantes, Laskarina Bouboulina  já não é mais lembrada.

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(O resumo histórico  deste texto foi publicado  originalmente em 28/10/2019)

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Laskarina atacando Náuplia – autor desconhecido – Museu Bouboulina, Spetses, Grécia
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Laskarina – Peter von Hess (1792-1871) – Museu Bouboulina, Spetses, Grécia

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