VAI DAR BODE NA CABEÇA
Esgotadas as personalidades que merecem títulos de cidadania, nossos lídimos representantes nas casas legislativas descobriram o novo caminho que os leva à mídia.
Sem denúncias de rachids.
Sem operações batizadas.
Aberta a temporada de caça aos bens imateriais.
Começou com a simplória e deliciosa Ginga com Tapioca, receita original e criativa de Dona Dalila, mantida pelos herdeiros e por quem aprendeu com ela a atrair turistas para o velho mercado da Redinha.
A declaração de patrimônio cultural do povo potiguar deu em tudo que é noticiário. Nos blogs e da imprensa escrita, falada, televisada e gratuita.
Menos no New York Times.
Não se surpreendam se o festejado jamegão não aparecer no balanço do ano que se encerra, entre as dez maiores realizações do primeiro governo de origem popular.
Na poeira do badalado sucesso, vieram o Pastel de Tangará, o Grude de Extremoz e o Caldo de Cana de Ceará Mirim.
Segundo fonte fidedigna, um raro assessor parlamentar que cumpre expediente, os processos que conferem as mesmas honrarias ao Caranguejo da Penha e ao Muçum de Goianinha, estão em tramitação, passando pelas diversas comissões da Assembleia.
Devem ser aprovados e enviados para sanção da chefa do poder executivo.
Tudo sob os ditames da lei e da jurisprudência.
Honrando os 2.236 votos recebidos a vereadora-socióloga acaba de emplacar a Roda de Samba do Beco da Lama como bem cultural imaterial do povo de Natal.
É a nova política melhorando a vida dos cidadãos.
Tendo perdido o protagonismo regional com a estatização da The Natal and Nova Cruz Brazilian Railway, Limited, a princezinha do agreste não pode deixar passar esta oportunidade de entrar novamente nos trilhos do progresso.
Iguaria típica, consumida nas barracas das feira e mesas mais lordes da burguesia, a carne guisada de bode merece todas as homenagens e o galardão conferido às outras comunas.
Educado na Inglaterra, herdeiro de grande fortuna, cartola da federação de futebol por décadas, João Cláudio de Vasconcelos Machado, falecido há 43 anos, foi imortalizado como cronista esportivo.
No tempo em que os times da capital costumavam jogar pelo interland, ao lado do narrador Roberval Pinheiro, foi muitas vezes hóspede do Nova Cruz Hotel.
Nos microfones do Curruchiado, resenha esportiva do meio-dia da Rádio Cabugi, campeã do Ibope quando o instituto nem existia, foi o maior divulgador da gastronomia servida na mais luxuosa estalagem da região do baixo Curimataú-Bujari.
Em Cabaceiras, no cariri paraibano, a Festa do Bode Rei, atraindo turistas de todo o mundo, é o principal motor do seu desenvolvimento.
E se Mario Vargas Llosa não cobrar direitos autorais, muito em breve, as atenções do mundo todo poderão estar voltadas também para nosso Rio Grande do Norte e sua agresteira Fiesta del Chivo.
Sem Trujillo.
Fica faltando só um deputado atuante. E antenado.
