27 de março de 2024
CidadesHistória

VENDEM-SE MEMÓRIAS

5370B57E-BB38-4FCA-8B2E-FE98DBBD8370
Sem contar com o de
Monteiro Lobato, depois do de Atibaia, o sítio do amigo mais famoso é o que Olavo Bilac derramou poesia no anúncio para os classificados do jornal:

Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros, ao amanhecer, no extenso arvoredo.

É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeirão.

A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda.”

Tempos depois, o poeta encontrou o amigo e perguntou-lhe se tinha vendido a propriedade.

Nem pensei mais nisso, quando li o anúncio que você escreveu, percebi a maravilha que eu possuía.”

A estória é conhecidíssima e serve para lembrar o valor que o que nos pertence, tem.

Nestes tempos de negócios imobiliários em baixíssima cotação, pra não dizer paralisados, a oportunidade de vender uma casa em ruínas, numa cidade que já teve mais movimento e oportunidades comerciais, não é de se perder.

Tirando a verdade que resiste ao tempo, quem desdenha quer comprar.

O consultor de negócios imobiliários, nas priscas, corretor, já sabendo tudo do que lhe renderia uma merecida comissão, começa a conversa, em arrodeios a três quarteirões da Rua Presidente Getúlio Vargas.

E  parou na óbvia encruzilhada, convergência  de todo negócio bem sucedido, onde se encontram, quem quer vender, quem precisa comprar, o fastio e a fome.

Depois de responder tudo que o intermediário já sabia, incluído qual irmão era o real dono do bem de herança, a necessária consulta, se interesssava continuar a negociação, foi transferida ao legítimo proprietário .

As clássicas informações e argumentos secundários, da crise no setor e a escassez de compradores, passando pela lembrança que o pulso e o coração da cidade há muito haviam subido a Treze de Maio, já passando do Alto de São Sebastião, em direção à Paraíba.

Nem a revelação que o valor pago por mansão, coisa maior e melhor, na mesma rua, foi aquém da tentadora avaliação, sensibilizou o desanimado vendedor.

O investidor de Jacaraú que planejava uma filial da sua madeireira na rua de fácil estacionamento e proximidade com as agências bancárias, não sabia  que o que  almejava não era somente um pedaço de 20 X 40. Estava adquirindo seu lugar na história da cidade.

Ali funcionou por décadas o Cosmopolita Hotel, icônico centro de turismo de negócios na bacia do Bujarí-Curimataú.

Na sua calçada, nas bocas de noites de ventos frescos, passavam as notícias que não saiam na Globo. Nem na TV Jornal do Commercio.

Se procurar saber um pouco mais onde vai investir, ficará sabendo que foi uma das suas janelas que o Capitão José da Penha, o primeiro líder popular a desafiar a oligarquia Albuquerque Maranhão, fez palanque para proferir o imortal discurso  e vilipêndio que espantou  todos os votos que poderia conquistar na “nesga do Rio Grande do Norte e pedaço infeliz da Rússia”.

Quando souber que nasceu naquele casarão de estilo pós-manuelino, o maior poeta de Nova Cruz, o imortal Diógenes da Cunha Lima, o agenciador da compra e venda haverá de agregar valores telúricos à sua argentária e fria avaliação.

6DC99FC4-CFAC-4A81-ADD7-8870260B54CF

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *