18 de abril de 2024
Imprensa Nacional

Vida de pescador potiguar em tempo de pandemia é destaque na Folha

 

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A matéria é de Cledivânia Pereira para Folha de São Paulo desta terça-feira, com direito a destaque na capa. Como estão vivendo os pescadores artesanais nesses tempos de pandemia? Tão perto e tão invisíveis aos nossos olhos. Vale a leitura. 

A residência do pescador José Celestino Pereira, 53, vai de uma viela a outra, espremida entre a linha do trem e o rio Potengi, na comunidade Passo da Pátria, em Natal. Colada com as casas vizinhas, não há nenhuma janela nas paredes. Os quatro pequenos cômodos que abrigam o pescador, esposa e quatro filhos praticamente não têm circulação de ar.

A casa é uma das maiores da comunidade que nasceu sobre o mangue e não tem espaço para isolamento social. Na área, cerca de 1.200 famílias se amontoam em pequenas estruturas de alvenaria.

Sem proteção —poucos têm acesso a álcool gel e máscara—, os moradores sentem os efeitos da pandemia. A poucos metros da casa do pescador, o posto de saúde da comunidade de Potengi teve uma morte registrada no dia 26 de maio. O paciente morreu em consequência da doença sem nem chegar a ser internado.

O Rio Grande do Norte teve até está segunda (6) mais de 35 mil casos confirmados da doença, com 1.254 mortes. Natal concentra quase a metade dos óbitos.

A capital do estado registra uma ocupação de 100% dos leitos da rede estadual há pelo menos um mês. Ela e outras 12 capitais brasileiras preocupam pela alta ocupação de leitos de UTI para pacientes no estado mais grave da doença

“Mas eu não desisto. O que eu conseguir pescar, se ninguém comprar, vira almoço”, diz.

O pescador conta que vendeu um peixe de 3 kg por R$ 30. Antes da pandemia, o valor era 50% maior. Seu irmão, Canindé Pereira, também vive da pesca.

“Meus compradores certos suspenderam as encomendas. Peixe até tem, mas não tem quem compre”, conta.

Os pescadores tentaram obter o auxílio do governo federal, de R$ 600, mas até junho não tinham obtido resposta.

Pelas becos da comunidade, encontrar alguém usando máscara é uma raridade.

“Vocês pegaram a gente desprevenido”, disse rindo Valdenildo Oliveira, 35, que jogava baralho com outros quatro vizinhos, enquanto as crianças corriam solta na beira da rio —todos sem proteção. O grupo disse que nenhum serviço social ou de saúde circulou com a comunidade para alertar sobre o perigo da doença.

“O que a gente sabe é pela televisão e pelo Whatsapp”, diz o morador, que está desempregado.

Segundo o professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e ex-secretário da Pesca do estado Antônio Alberto Cortez, o Nordeste é a região do País que concentra o maior número de pescadores artesanais.

No litoral do Rio Grande do Norte são 14 mil.

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