19 de abril de 2024
Coronavírus

VOLTA POR CIMA

Doença, Loucura e Morte (1902) – Gustav Klimt – Galerie Belvedere, Viena, Áustria


Sempre recebida com honras reservadas às celebridades, por faltas justificadas, depois de dois anos ausente, ela  está de volta, e no centro das atenções.

Sua visita anual, depois de caída na rotina, já não era  anunciada nas primeiras páginas dos jornais, mas depois de tanto borbardeio imunológico, os espaços estão sendo agora  reconquistados.

A quadra chuvosa prevista pelos meteorologistas e comprovada nas sangrias dos açudes, é o cenário perfeito para seu retorno triunfal.

Com todas as atenções voltadas para a superstar arrasa-quarteirão, não sobrava  cientista algum para as devidas e convincentes análises e explicações midiáticas.

Isolados observadores da vida em cativeiro e curiosos da entomologia constataram não ser por falta de vetores .

A família Culicidae é numerosa.

Unida, continuou zoando os ouvidos, mas há  tempos  não se veem carros fumacê em circulação.

Os guardas da malária, depois promovidos a agentes de endemias e vigilantes sanitários, deixaram de frequentar as residências.

As bromélias sem seus predadores naturais, nunca estiveram tão viçosas.

Caixas-d’água, calhas, tambores e outras tralhas continuaram se acumulando nos fundos dos quintais sem despertar as velhas promessas, nunca cumpridas, de faxina geral, no sábado próximo,  que nunca vem.

Do lixo e do acumulado em terrenos baldios, não é bom nem falar.

A culpa acaba sendo do burro da carroça, ou de quem não sabe fazer o descarte, sem paciência de esperar o dia da coleta.

Com os espaços no noticiário dominado por danças,  joguinhos, presepadas,  buracos e crateras de rua que festejam aniversário, com direito a bolo de padaria, a desaparecida agora anda de volta, um tanto diferente.

Longe dos ambientes onde já foi  rainha, pelos pronto-socorros não era mais reconhecida, nem procurada.

Há quem considere a rentrée depois do sumiço, contaminada por altas taxas de inveja.

Por tudo que já fez, nunca recebeu tanta atenção quanto o forasteiro desconhecido, sentado na  poltrona da janela.

Quem jamais teve reservas de leitos exclusivos nos hospitais, muito menos, UTIs inteiras.

Por ela,  os comitês científicos não se pronunciam, não são realizadas reuniões; sem direito a decretos, a população fica matando mosquito a tapa.

Será que no tratamento da virose do século, os médicos precoces, adoradores de drogas sem comprovação científica, como aconteceu com as melhores penicilinas do mundo, acertaram no que não viram?

Não terá sido remédio pra piolho, o que manteve a Dengue afastada todo esse tempo?

 

Medicine & Hygeia (1901) – Gustav Klimt – Pintura no teto da Universidade de Viena

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