Wilson Witzel; de Juiz Feral a governador afastado do Rio
Do Globo
Há um ano e cinco dias, o governador afastado do Rio de Janeiro e ex-juiz Wilson Witzel sentenciava seu rompimento com o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à revista “Época”.
Witzel tornava público o que todo o governo já sabia: sua prioridade era se candidatar presidente da República em 2022. Em seu primeiro ano de governo, tomou atitudes performáticas, como a comemoração pelo desfecho do sequestro de um ônibus, na ponte Rio-Niterói: saiu de um helicóptero, em gesto de vitória, diante da morte do sequestrador. A agenda de campanha foi lançada antes que uma marca clara de gestão se tornasse realidade.
O rompimento repercutiu no diálogo com o governo federal, em um momento em que o estado precisava como nunca de uma boa relação administrativa com a União. O Plano de Recuperação Fiscal vinha sendo tocado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Witzel tentou uma trégua com a família Bolsonaro, quando percebeu que sua permanência no cargo de fato corria risco. Queria apoio na Alerj, e um alicerce no poder central, mas foi rechaçado pelo presidente.
Depois de uma vitória surpreendente, do Palácio Guanabara Witzel olhou para Brasília e minimizou o estado do Rio de Janeiro, quando se acumularam crises simultâneas. A pandemia do novo coronavírus acelerou a percepção de pane da gestão.
O governador acabou envolvido em um enredo de corrupção que se repete no estado em três gestões sucessivas. E o Rio vive novamente os efeitos do afastamento de um governador.
A história de Witzel, que não se encerra hoje, pois ainda cabe recurso à decisão, indica que treino não pode ser feito em jogo.
Ser pré-candidato e governar um estado em crise como a que o Rio vem enfrentando tende a ser fatal, para um dos dois projetos. Ou para os dois.
E escolher inimigos que são fundamentais para o andamento de políticas públicas mostrou-se uma atitude suicida.