Entrevista de Judas Tadeu, presidente do ABC, publicada neste domingo (10) na Tribuna do Norte
Judas Tadeu / Presidente do ABC
Vicente Estevam – Repórter de Esportes
“A situação do ABC é preocupante”
Se as coisas dentro de campo entraram nos eixos, fora das quatro linhas os dirigentes buscam alternativas para levantar mais recursos e honrar uma conta que até o final do ano, nos cálculos da atual diretoria, vai chegar a três milhões de reais. O presidente Judas Tadeu, nesta entrevista a TRIBUNA do NORTE fala da preocupação em começar a ter de atrasar os pagamentos a partir do próximo mês, da busca por novos recursos e também da dificuldade de se arranjar patrocinador para o futebol em ano de crise. As contas não estão fechando, a torcida não vem dando o respaldo financeiro esperado e, sem saída, chegou o momento de se tomar medidas amargas ao gosto do dirigente.
Como estão as finanças do ABC?
Nós terminamos de pagar os compromissos do mês de maio, entendemos que apesar de todas as dificuldades que encontramos aqui, incalculáveis e que a gente já esperava mesmo enfrentar essa situação, podendo juntar a isso a ausência do público no estádio e a ausência de patrocínio, falta saldar ainda o mês de junho, que ainda está dentro do prazo. A situação ainda está equilibrada, mas temos ciência que a partir de julho a situação irá ficar mais apertada.
Quando se diz situação apertada, a diretoria está se referindo ao que?
Me refiro a possíveis travamentos aos pagamentos que vinham sendo realizados dentro das datas. Por exemplo: até o dia cinco de cada mês a gente pagava o contrato do jogador definido na carteira de trabalho e a partir do dia 10 o vencimento era completado com o pagamento dos direitos de imagem. No dia cinco pagávamos os funcionários e isso só foi possível até maio, foram cinco meses de muito esforço para manter a situação controlada. Mas a partir de julho não posso garantir o cumprimento desse calendário, mas também não posso dizer que ocorrerá um atraso longo. Vendo a dificuldade surgir nós já conversamos com a diretoria de futebol, comissão técnica e pedimos paciência e um voto de confiança aos atletas, pois no futebol atual, nem sempre é possível se pagar salários rigorosamente em dia. As dificuldades são imensas, mas ainda assim considero que o ABC está equilibrado.
Quais são as fontes de recursos do ABC atualmente?
Não temos patrocínio máster, tem um contrato assinado com uma empresa que estampa a sua logo marca na camisa do ABC, mas o clube não vem recebendo os repasses financeiros por causa de um problema no contrato. Receitas mesmo nós temos uma pequena participação da Ster Bom, que chega a R$ 5 mil, e uma de R$ 10 mil da Unimed. Com o projeto de sócio torcedor a média de arrecadação chega a R$ 80 mil ao mês e a Timemania tem dado uma média de R$ 150 mil ao mês. Nós atualmente temos uma arrecadação inferior a R$ 400 mil e o clube tem seus compromissos que passam de R$ 800 mil a cada mês. Essa é a verdadeira história financeira do ABC hoje.
Mas o que faz a conta do ABC chegar a R$ 800 mil ao mês?
Isso ocorre devido aos acordos do Caex, que é R% 70 mil, e também outros acordos firmados pela administração anterior que têm de ser cumpridos também. Só de acordos trabalhistas e judiciais existem um débito de mais de R$ 70 mil, então apenas para saldar dívidas passadas são quase R$ 150 mil. Isso apenas dentro do futebol profissional, sem incluir o pagamento a fornecedores e as obrigações sociais que estão sendo parceladas. A situação não é fácil, mas a gente sabia que iria encontrar essa dificuldade e estamos procurando administrar tudo da melhor forma possível.
O que vinha acontecendo até maio que vai deixar de acontecer agora para deixar o presidente Judas Tadeu tão pessimista?
Minha principal preocupação é que devido à dificuldade da economia e de conseguir parcerias são muito grandes. Entendemos a dificuldade do torcedor, que não está livre desse momento de crise, as arrecadações têm sido pequenas, diria que quase inexistente, no ano nós só tivemos uma renda considerada boa que foi a da final do Estadual contra o América, que nos deixou R$ 180 mil, e lamento que as demais rendas só tenham dado basicamente para cobrir os custos de uma partida. Meu pessimismo se explica pelas dificuldades de se encontrar empresas interessadas em investir no futebol. Digo que essa é a nossa maior dificuldade.
Na visão da diretoria, quanto o ABC vai precisar arrecadar para terminar o ano com as contas saneadas?
A conta do futebol vai fechar se conseguirmos arrecadar R$ 3 milhões. É uma média de R$ 500 mil para fechar a folha de pagamento, juntando o elenco profissional, estrutura administrativa e as categorias de base. A partir de julho, o ABC vai necessitar arrecadar R$ 500 mil todo mês para não escangalhar suas contas. Esse será o custo do futebol e do pessoal de apoio até o mês de novembro, quando encerra a série C e nosso poder de arrecadação atual é de R$ 300 mil/mês, a continuar dessa forma as contas não vão fechar e iremos acabar com um déficit bem razoável nas contas. Isso é apenas a despesas com o futebol, não estão relacionadas outras coisas que o clube necessita para se manter, a situação é preocupante.
Mas os adversários políticos da atual gestão não podem usar isso como arma contra a gestão Judas Tadeu?
Nós temos um portal da transparência onde colocamos todas as nossas contas. É importante que o torcedor acompanhe, que os formadores de opinião também façam isso que é para não criar uma situação de terra arrasada. Todo dia 25 publicamos nossos balanços mostrando a realidade do ABC.
Frente a essa escassez de dinheiro, com a vaga na Copa do Brasil e na Copa do Nordeste de 2017, o ABC vai pedir antecipação de cotas?
Nós já pedimos a antecipação. Isso contra a minha vontade, não sou a favor de antecipação de receitas, mas o clube foi obrigado a partir para essa alternativa pedindo adiantamento de uma parte da cota de participação na Copa do Brasil. Agora estamos tratando junto com o presidente da Federação Norte-riograndense de Futebol (FNF), José Vanildo, da possibilidade de fazer o mesmo com a cota da Copa do Nordeste.
Essa antecipação solicitada seria de quanto presidente?
O montante pedido pelo ABC foi de R$ 400 mil. Fizemos a solicitação através do presidente José Vanildo que foi ao Rio de Janeiro e está tentando viabilizar esse acordo. Volto a destacar, sou totalmente contra esse artifício, mas hoje não temos outro caminho a não ser mexer em verbas programadas para o exercício do próximo ano. Essa antecipação será exclusivamente para fechar a folha do mês de junho e temos de fazer isso até o dia 30.
Mas depois que se esgotar a fonte das antecipações, quais seriam a alternativa?
Vamos continuar buscando outras alternativas para angariar recursos, solucionando a questão de junho ganhamos mais 30 dias para buscar novas alternativas de entrada de recursos. Estamos nos reunindo diariamente para tratar desse assunto, mas sabemos que a solução é complicada. Contamos com uma audiência com o prefeito e com o governador do estado, o futebol é um grande meio de divulgação das marcas da cidade e do estado e na Paraíbas isso já se reverteu em patrocínio aos clubes, aqui no RN ainda não e é isso que vamos tentar viabilizar. Nossa expectativa é que nossas autoridades se sensibilizem com a situação dos clubes e firmem esse compromisso conosco.
Nas contas da diretoria, quanto vocês poderiam arrecadar com essa contribuição pública?
O mínimo possível, acho que as nossas autoridades devem ser sensíveis aos problemas enfrentados pelos nossos clubes e reforço que representamos o estado através do futebol que é esporte, cultura e lazer, é do povo. Não sei se existe obrigação nisso, mas iremos fazer esse apelo para buscar esse patrocínio, que está quase impossível de se conquistar dentro da iniciativa privada. Nessa área temos conquistados avanços pequenos e que não representam muito dentro do futebol.
E o programa sócio torcedor não decolou como era esperado com o lançamento de novas modalidades?
Não da forma com a gente imaginava no princípio, como já disse, a arrecadação mensal com o projeto chega à casa de R$ 80 mil. Ano passado o ABC tinha o patrocínio da Caixa, que rendia R$ 300 mil mensais ao clube, a cota da TV que garantia outros R$ 300 mil e nós pensávamos que com a campanha realizada pelo clube e o título estadual, estamos bem no futebol, o aporte com esse projeto pudesse substituir um desses patrocínios pelo menos. Mas o abecedista ainda não comprou essa ideia, infelizmente ainda estamos muito distantes ainda da meta que gostaríamos e fica aqui meu apelo ao torcedor para aderir à campanha de sócio para, definitivamente, ajudar a manter nosso clube forte na luta para retornar a série B.
E esse movimento que os clubes da série C estão fazendo para receber cotas de transmissão do campeonato, o ABC integra ele?
Sim, já realizamos algumas reuniões e estamos trabalhando para fechar uma proposta e levar para CBF. Nós hoje temos direitos apenas as passagens aéreas, quando uma partida é realizada acima do raio de 700 Km em diante e hospedagens, mas precisamos de algo como ocorre nas séries A e B. A TV transmite jogos ao vivo, inclusive para as áreas onde são realizadas as partidas, interfere no público que vai ao estádio e precisamos de uma compensação. A ajuda fornecida hoje é pequena pelo fato de o torcedor ter se ausentado dos estádios.
Continuando esse panorama de escassez o ABC terá de se desfazer de algum jogador?
Sim, passa a ser a única alternativa para equilibrar as contas. Já fizemos um negócio com o Santos com a transferência de Montanha, cuja parceria começou a render R$ 100 mil ao clube e estamos trabalhando para ver se conseguimos emplacar outros. Erivelton também tem mercado, tivemos sondagens, mas optamos por manter o atleta no grupo que disputa a série C renovando o contrato dele inclusive. Espero que o time continue evoluindo para conseguir vender o jogador. Nessa transação, 70% seria do ABC e outros 30% de uma empresa de Minas Gerais.
