Por que vinhos brancos combinam com frutos do mar?
Já ouvi muitas respostas simplificadas, mas a verdade é que essa harmonia tem fundamentos químicos, sensoriais e, claro, culturais.
A acidez de um bom vinho branco é como um espremido de limão sobre uma ostra fresca. Ela realça sabores, equilibra a untuosidade natural de alguns frutos do mar e cria aquela sensação de boca limpa, pronta para a próxima garfada. Mas não é só isso: os brancos costumam ter menor teor ou nenhum teor de taninos, aqueles compostos que dão sensação de adstringência no paladar. Como frutos do mar são delicados e podem ter sabores levemente iodados, um vinho tânico pode acabar criando um amargor metálico desagradável. É por isso que tintos encorpados geralmente não são a melhor escolha.
E já que estamos falando de boas combinações, um dos meus brancos favoritos para acompanhar frutos do mar é o Albariño. Essa uva, que brilha na Galícia (noroeste da Espanha) e no norte de Portugal (onde dá origem ao Vinho Verde), produz vinhos vibrantes, cítricos e com um leve toque salino. É como se a própria brisa do oceano estivesse engarrafada ali. Não é coincidência: os vinhedos de Rías Baixas, a principal região produtora do Albariño, ficam pertinho do Atlântico, e essa influência marítima transparece no vinho.
Lembro da primeira vez que provei um Albariño, acompanhando uma mariscada. O frescor do vinho cortava a suculência dos camarões e mexilhões de um jeito perfeito. Era o ano de 2017 e eu estava na Galícia fazendo o Caminho de Santiago. Dias atrás, experimentei com uma posta de robalo grelhado e o resultado foi o mesmo: equilíbrio puro. Desde então, sempre que tenho frutos do mar à mesa, penso automaticamente nesse estilo de vinho.
Mas não é só o Albariño que faz bonito. Sauvignon Blancs do Vale do Loire e da Nova Zelândia, Chardonnays sem madeira de Chablis, Vermentinos da Córsega, Assyrtikos da Grécia… todos têm essa acidez revigorante que complementa os sabores do mar. O importante é buscar um vinho fresco, mineral e sem muita influência de carvalho, para não mascarar a delicadeza dos pratos.
Se você ainda não testou essa combinação, faça um favor a si mesmo: compre um bom Albariño e prepare frutos do mar do jeito que preferir – seja uma simples porção de ostras, um polvo grelhado ou um peixe assado. Abra a garrafa, sirva gelado e sinta como os sabores se transformam. Depois me conte se essa experiência não mudou sua forma de enxergar o vinho branco.
O Albariño é uma das uvas mais emblemáticas da Espanha, cultivada principalmente na região de Rías Baixas, onde ganha sua melhor expressão. Essa área vinícola foi reconhecida oficialmente em 1988 e, desde então, tem conquistado admiradores ao redor do mundo. Se tiver a oportunidade, visite a Galícia e prove o Albariño direto da fonte, harmonizado com pratos tradicionais como o polvo à galega e as famosas vieiras da região. A experiência vai te mostrar por que esse vinho se tornou um clássico para acompanhar frutos do mar.