No vácuo do poder oficial, organizações paramilitares se mobilizam para a garantia da segurança.
O filme que estreou nos estertores do século vinte nas periferias e favelas das grandes cidades, está em fase de produção, rodando suas primeiras cenas nas zonas rurais em todas as regiões brasileiras.
Saída de um penoso período de seca, o interior do nordeste brasileiro começa a usar o mesmo remédio e não é difícil prever o que vem pela frente.
As atrações da vida urbana e a renda mínima para os desocupados esvaziou sítios e fazendas ao mesmo tempo em que a retomada do agronegócio faz circular, no meio rural, riquezas. E cobiça.
As imagens da vida bucólica no ambiente agrícola estão manchadas por violência e medo.
O mesmo negacionismo que não deixou ver a invasão das drogas aos pequenos povoados e fez vistas grossas à atuação das organizações criminosas nos presídios, está abrindo porteiras para a violência desenfreada.
A universidade do crime forma em seus cursos nas comunidades das metrópoles, profissionais para diferentes áreas de atuação.
Os primeiros a chegar foram os assaltantes de bancos e agências dos correios. Quais bandoleiros saídos de estórias do velho oeste, arrombaram a boca do balão e explodiram caixas eletrônicos, num jogo pouco disputado pelas forças policiais que têm perdido de goleada.
Apólices de seguros calam as reclamações dos prejudicados e finge-se que o problema é dos outros, com a resignação de quem também acredita nas leis de Robin Hood.
A diversificação da nova atividade econômica clandestina atinge proporções escandalosas.
Relatos de assaltos a propriedades rurais já são rotina, sem provocarem a necessária indignação nem mobilização governamental.
Acuados, produtores estão se organizando na defesa do patrimônio e da vida.
Da vigilância privada, do patrulhamento coletivo, do armamento improvisado e das normas estabelecidas ao arrepio da lei, para a formação de milícias, é um passo.
O que hoje é visto como solução, alguns invernos pra frente têm tudo para se transformar em outro problema de difícil solução.
A força que domina as favelas cariocas, monopolizando a prestação de serviços essenciais, começou com o fornecimento do que a sociedade pelos poderes constituídos não foi capaz de prover. O combate ao narcotráfico.
Serviços opcionais convertidos em compulsórios.
Obrigatórios, cada vez mais sofisticados e cobrados na moeda extorsão.
Do transporte alternativo exclusivo em kombis morro a cima e a baixo, energia e água da gatobrás, TV a cabo, gás de cozinha, foram consequências naturais dos ensinamentos de Isaac Newton.
Espaços ocupados e territórios defendidos também na representação política.
Os parlamentos já têm sua bancada, diluída em muitas outras, agindo nos subterrâneos do poder.
A segurança comprada hoje a retalho, do outro lado do balcão, evolui.
Vira patrulha.
Batalhões formam exércitos.
O fenômeno incipiente é um aviso claro.
Se nada ou o que tem sido feito continuar como está, na barbárie, vamos ouvir muitos Coriscos a gritar por todas essas capoeiras.
Mais fortes são os poderes do povo!