Que não é coveiro, ele próprio já afirmou na curta frase da sua melhor peça de defesa.
A acusação de estar induzindo autoridades a renunciar aos mandatos e às próprias vidas, pode levar o colunista e escritor Ruy Castro a responder processo patrocinado pelo excelentíssimo Ministro da Justiça, a mais disputada (e anônima) celebridade neste veraneio do litoral sul.
Crime tão hediondo que o seu colega Ricardo Noblat entra de gaiato solidário na ação, por ter reproduzido, ipsis litteris e com o devido crédito, a macabra sugestão.
Inócua, pode se tornar a imputação.
Haverá a mínima chance dos desejos expressos pelo autor virem a se concretizar?
É o que precisa ser apurado.
É bem provável que o humor do biógrafo carioca esteja simplesmente, apontando personagens à procura de autores para contarem os escondidos de suas vidas públicas.
Pelos antecedentes dos dois chefes de estado, é muito pouco provável um fim abrupto na tragicomédia que vêm protagonizando em dueto.
Para eles, se conselho não fosse bom, não precisariam nomear tantos assessores especiais. E pagá-los regiamente para raciocinarem por eles.
A primeira vítima, nos estertores do mandato, com tantos amigos esperando indultos e pensando como fazer um para benefício próprio e uso próximo, não deve ter tomado conhecimento do mórbido estímulo, nem dado a mínima para o que escreveu o periodista cucaracha.
Mais um “inimigo do povo” a espalhar fakenews.
Se em quatro anos, os vizinhos foram ignorados, isolados por muro alto, não vai ser desta vez que a temperatura vá subir no paraíso da floresta tropical.
A não ser que, apeado do poder, seja estratégico para o gringo, manter um presidente cover fazendo o que continuaria, se não fosse a fraude eleitoral.
Abaixo do equador, naquele remoto país, mais longe que a Venezuela, as chances de provocar um fim de governo com tragédia, é muito mais improvável.
Ninguém poderá esperar que o presidente que também faz questão de mostrar não ter o menor apreço pelo jornalismo, tenha o hábito da leitura. Mesmo dos curtos textos das colunas de seis parágrafos.
Caso o desfecho viesse a acontecer como um presságio, o agouro não teria o mesmo impacto da comoção nacional, na memória coletiva, passados 65 anos.
A começar pela carta-testamento.
Com produção literária ainda inédita e discursos de improviso ou lidos no teleprompter com titubeante fluência, não se imagina que as explicações a serem deixadas possam emocionar tanto quanto as despedidas do orador, memorialista e pai dos pobres, ocupante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.
Difícil de medir o impacto que poderia ter uma live onde o renunciante, por trás de uma mesa de jantar, vestido com camisa de time de futebol, declarasse:
–Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
Não daria certo, Ruy.