O atestado definitivo que a escolha da companheira de chapa de Joe Biden não poderia ter sido melhor, veio de onde se espera tudo.
O President Donald Trump insinuou que Kamala Harris não atende às exigências constitucionais, por ser descendente direta de imigrantes.
Aos 55 anos, a filha de advogado jamaicano e médica indiana, foi procuradora-geral (eleita) da Califórnia, seu estado natal e está no Senado há pouco mais de dois anos.
Primeira senadora de origem indiana e afro-americana é a primeira mulher negra a disputar a vice-presidência. Pode ser a primeira VP.
O potencial eleitoral da escolhida fez Trump esquecer até as origens do seu antecessor, filho de queniano.
O Pardido Democrata apresentou quatro candidatos para o vice do vice de Obama escolher seu próprio regra 3.
Todas mulheres, de enorme visibilidade.
Duas senadoras combativas, uma governadora e uma ex-assessora de segurança nacional.
Todas tiveram seus nomes lembrados para a cabeça da chapa, duas delas tendo disputado as eleições primárias.
A tradição americana é de passar uma borracha nas rusgas e no que foi dito durante as disputas internas no partido, zerar o placar e entrar em campo, unidos, para ganhar o jogo principal.
Este ano, tinha garanhão na cancha, com pule de 10.
A barbada estava desenhada no desempenho da Economia e nos nunca vistos índices de pleno emprego.
Contava-se como favas a reeleição garantida com o apoio da maioria silenciosa, disposta a voltar às urnas não-obrigatórias, para repetir a dose que deixou os institutos de pesquisas, incrédulos, desacreditados e abstêmios.
O republicano eleito fez a opção pelo tipo imperador de governar.
L’ Amérique c’est moi.
Matou no peito todas as acusações que recebeu, chutando tudo pra frente, como fakenews da CNN.
Popularizou o verbete e lambuzou-se com espessa camada de teflon.
Até um processo de impeachment devorou como se fosse um whopper com fritas.
Veio a pandemia e o tempo e os costumes mudaram.
O chefe de estado tem agora, muito a explicar.
Do pouco caso inicial, ao menosprezo da gripezinha comum, passando pelas divergências com o comitê científico de assessoramento, até à resistência ao uso de máscara facial e fé inabalável na antimalárica cloroquina.
O político neófito e outsider que na primeira eleição que disputou na vida, ganhou a presidência do mais rico e poderoso país do mundo, prometendo fazê-lo maior, precisa mostrar a capacidade de comandar a recuperação depois da imensa catástrofe.
Além da inesperada queda pela maneira de enfrentar a maior tragédia sanitária da história, o coice da explosão das desigualdades sociais, trazendo para as ruas e centros de discussões, a questão racial que hibernava, não foram suficientes para desalinhar o espevitado topete.
Do roteiro ainda sendo escrito em Hollywood, uma previsível certeza.
No final, aquele imigrante nascido no Brasil, sempre salva a América.