Pessoas com imaginação criativa, raciocínio rápido, presença de espírito e muito tempo para jogar conversa fora, sempre fascinam.
Um personagem digno de figurar em antologias de estórias de realismo fantástico, é lembrado por um leitor e volta no garimpo das preciosidades do salão de bilhar da inesquecível Nova Cruz.
Nosso personagem, o indefectível proprietário do Bar Continental.
Seu Zizi era considerado velho para a época.
Cabelos penteadas na glostora. Calças e camisa de linho. Na goma. Sapatos com o brilho que só Baltazar sabia dar.
Achavam que parecia com Adhemar de Barros e com o inventor das lâminas de barbear, Mr. Gillette.
Não devia ter entrado nos 60s, idade que pedia pouco esforço, dieta à base de papas e fundo de rede.
Aposentado da labuta, dava expediente com carga horária medida em conversa fiada.
Estava sempre presente ao lado do filho, Helano (agá mudo), do outro lado do balcão.
Sentava-se às mesas com pés de ferro e tampos de mármore. Nas horas de pouco movimento ou muito calor, via a vida passar, à sombra, num tamborete na calçada estreita.
Conhecido pelas respostas desconcertantes, tiradas espirituosas e relatos incríveis, não faltava quem puxasse assunto com ele.
Construção antiga, o centro de entretenimento e jogatina, apesar do estoque de comidas e bebidas e da refrigeração e higiene sofríveis, era zona livre de roedores.
Trabalho para um batalhão de gatos, regiamente tratados a leite batizado.
Naquele cenário, não foi difícil achar a inspiração para a conversa do dia.
A discussão tornou-se filosófica: tinham realmente sete vidas os felinos?
Veio de fato relatado, ocorrido na Bananeiras natal, a comprovação da crença popular que não deixava dúvida alguma.
Na sua casa no brejo paraibano, certa vez, um gato levou um tiro.
A bala entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Contou em tom dramático.
Fez-se aquele silêncio. E o suspense.
Interrompidos pela pergunta mais do que previsível.
Se diante de tamanha agressão, o pequeno animal havia morrido.
–Não. De jeito nenhum. Só ficou mouco.