O EFEITO RODOLITO

Uma teoria, há mais de vinte anos circulando em ambientes acadêmicos, entrava em todos os cérebros e casas, nas ondas amigas dos noticiários de TV e nas discussões, nem sempre amistosas, dos grupos de relacionamento digital.
O interesse em entender aspectos técnicos da maior crise sanitária, as restrições impostas e o instinto de sobrevivência, fizeram surgir especialistas em tudo que podia ser relacionado a contágios, contaminação, medidas protetivas e projeções da evolução dos números de atingidos.
Alguns disputavam espaços com experts em economia e política.
Eram levados a dar opinião sobre absolutamente tudo, incluídas matérias que não constaram dos seus currículos de provas e pomposos títulos.
Desde então, as pessoas mais comuns perceberam como é fácil opinar sobre qualquer assunto, quando todos fazem o mesmo.
O importante é defender os pontos-de-vista e ideias próprias, com unhas, dentes, convicção e fé inabalável.
O conhecimento é construído no pandemônio da overdose de informações, proficiência, interesses inconfessados, desvios da verdade e fakenews, sob a grade curricular do curso de sobrevivência da universidade da nova vida.
Os psicólogos que receberam o Prêmio igNobel em 2001 tornaram imortal o trabalho original:
“Desqualificado e inconsciente: como as dificuldades em reconhecer a própria incompetência levam a uma autoavaliação inflada.”
O laurel conferido pela revista de humor científico Anais das Pesquisas Improváveis, que reconhece e premia as conquistas e trabalhos que primeiro fazem as pessoas rir e depois as fazem pensar, é a prova maior que a teoria constatada, há muito deixou de ser motivo de riso:
“Quanto mais ignorante em um determinado assunto, mais confiante a pessoa pode se sentir ao opinar sobre ele.”
O efeito Dunning-Kruger é que faz um indivíduo com pouco conhecimento sobre um tema, se convencer que sabe mais que os outros, mesmos os mais preparados.
São incapazes de reconhecer os próprios erros pela incompetência no auto-julgamento.
A superioridade ilusória demonstrada por detentores de cargos de prestígio chega a ofuscar os mais capacitados, permitindo que prevaleçam os impostores.
A CPI da Cloroquina foi um laboratório de demonstração prática controlada deste efeito e seu melhor exemplo é o senador baiano Otto Alencar.
Afastado da cátedra e da prática médica há mais de 30 anos, tornou-se fonte de informação e referência para jornalistas que avaliavam seu cabedal científico pela pergunta sobre a diferença entre protozoários e vírus e a capacidade de ler bula de vacina.
Seus discípulos se multiplicaram e invadiram as praias potiguares.
Não há outro lugar no mundo com mais especialistas em areia do fundo do mar, rodolitos, espelhos d’água e enchentes em engordas de enseadas, que esta terra de Clara e Poti.

(Baseado no texto O Efeito Otto Alencar, publicado há quatro anos)

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