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O MARECHAL INVICTO AOS 80

 

Nos anos de chumbo, faltou pólvora nos quartéis, e as araras já estavam extintas no que  restava da mata atlântica.

Só isso para explicar que no regime militar de exceção (ditadura, para as vítimas e para a história), não ocorreram mortes nem relatos críveis de pendurados em paus-de-ave psitaciforme, nestas terras, morros e lagoas que já foram de Rifólis.

É bem verdade que muitos foram retirados de circulação por uns tempos. Até por 49 dias, há relato.

Ser levado ao QG para esclarecimentos a uma CGI ou mesmo responder a IPM a cargo de algum tenentinho, tinha lá seus mistérios e medos.  Mas também glamour, charme e prestígio.

Inacreditável é alguém ter ficado frustrado por não ter participado com protagonismo, daquele conturbado momento histórico.                    

E não ter sido levado aos tribunais de exceção, nem como reles testemunha.

Quando soube que  um dileto amigo e um primo-irmão estavam  trancafiados nas masmorras da repressão, ficou certo que seria o próximo a cair.

Estava preparado para o confinamento nas mesmas menagens dos quartéis. E para ser servido, por taifeiros, com as rações do cassino de oficiais, recluso em aposentos reservados aos visitantes mais ilustres.

Preparou a maletinha básica com o pijama listrado, duas cuecas, escova, pasta kolynos e  sabonete eucalol.

Esperou onde poderia ser achado com mais facilidade, em endereço certo e bem sabido. Por vários dias. Em vão.                                             

Se tinha que sair, voltava logo e  perguntava se havia sido procurado. Ou se ao menos, algum jipe do Exército passara pela rua.

Atingido indiretamente pelo AI-5,  com a cassação do seu guru político, partiu para o auto-exílio.

Acolhido como refugiado no Hilton Hotel Düsseldorf,  recebeu treinamento, fez carreira de cumim a garçom e jura ter servido a estrelas do brilho de Curt Jurgens e Grace Kelly.

Nas férias de verão, qual  uma arribaçã dos Dois Lajedos, migrava em direção sul.                                             

Para enfrentar os miuras  e todo o trabalho pesado na equipe de rescaldo em Las Ventas, a praça de touros mais famosa de Madri.

Com o milagre econômico, voltou ao patropi, antes da anistia desabrochar.

Entre outros empreendimentos, usando know how dos tempos de escriturário do BB,  inovou nas parcerias público-privadas, semeando hotéis do litoral ao sertão.

De riquíssima vida acadêmica, quase bacharel em direito, quase economista, quase administrador, quase turismólogo. Curso concluído, e pós-graduado, em História.                                  

E como tem estórias pra contar!

A exigência da hierarquia militar,  da mesma ou patente superior para levar um oficial em cana, é a única explicação para sua não-prisão.

Nestes estuários do rio grande, nunca nasceu nem sentou praça, condestável tão engalanado quanto  ele.

 Marechal Porpa.

Este texto, publicado em 28/07/2020, é reproduzido hoje, em homenagem aos 80 anos de Luiz Antônio Tôrres Porpino, personagem que Nova Cruz ofereceu ao mundo, para  tornar-se  sinônimo de solidariedade.

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