Falava das coisas simples.
Dizia que as leves são as únicas que o vento não pode levar.
Como um cheiro que o próprio vento tinha.
Não se conheceram mulheres a quem tenha dedicado versos. Mas deixou dúvidas e enigmas a serem desvendados.
Senhora, eu vos amo tanto Que até por vosso marido Me dá um certo quebranto.
Preservava a amizade que via como o amor que nunca morre.
Mas era exigente com os amigos que os queria discretos.
Não te abras com teu amigo Que ele um outro amigo tem. E o amigo do teu amigo Possui amigos também…
Aos descendentes que não teve, deixou uma coleção de livros infantis que têm acalentado os filhos e netos dos outros.
Quando guri, eu tinha de me calar à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem.
Vinte e cinco anos depois da sua morte, o jornalista e poeta, continua sendo lembrado, reeditado e citado.
Referência de vida simples e rica. Para quem, apesar das dificuldades e de tudo que não viveu,
Vale a pena viver. Nem que seja para dizer que não vale a pena…
Não é difícil imaginar quantas outras observações seriam transformadas em poemas e frases imortais se o convívio pudesse ser possível com as crianças de hoje.
As do seu tempo, diferentes das do tempo da infância no Alegrete já estavam fadadas à independência precoce dos livros e obediências de outrora, por influência das revistas em quadrinhos.
As contemporâneas, que nem gibis curtem mais, hipnotizadas pelos desenhos animados, sites, streaming, weblogs videoblogs e outras ferramentas que a diferença de gerações não permite acompanhar, como seriam vistas pelo solitário das pensões e hotéis de Porto Alegre?
E se netos tivesse tido e estes pudessem mostrar situações impossíveis de serem criadas pela imaginação mais fértil.
Como da reunião de pais e mestres na escola do pequeno vivente de quatro anos.
A maioria (ruidosa) de mães discutia com professores, todas mulheres, quando o ambiente de predomínio feminino foi maculado pela abertura abrupta e sem batidinha na porta, de um piá, aluno do quarto estágio do curso pré-primário que foi logo anunciando, em voz alta e quase grossa, o objetivo daquela invasão e a convicção como a fazia.
Está chovendo e ninguém vai me tirar daqui de dentro.
Bastou o olhar fulminante da genitora para que o destemido invasor saísse com o rabo entre as perninhas, antes mesmo de ouvir a ordem unida.
Já pra fora, seu cabra.