QUANDO A LUZ SE ACENDE

Ninguém personifica mais o país nestes tempos de incertezas do que Diógenes de Sinope.
Maltrapilho, escondendo suas vergonhas num velho barril, o filósofo cínico vagou com um candeeiro na mão e uma ideia fixa na cabeça: encontrar um homem honesto.
O Brasil também segue procurando uma saída política em meio a maior crise moral da sua história.
Timidamente.
Mesmo assim, os primeiros sinais incipientes são auspiciosos.
Entre o capitalismo selvagem e o socialismo romântico, os partidos vão se ajustando, procurando fugir dos extremos, reconhecendo que o radicalismo empobrece o debate e inviabiliza soluções duradouras.
O partido Novo, que além do nome representava o estado mínimo, tem poucas estrelas de maiores grandezas, além do Governador Zema, para brilhar sob os holofotes de uma campanha presidencial.
No outro campo, os partidos mais à esquerda vêm sendo submetidos a um rigoroso regime de emagrecimento.
O PCdoB perdeu seu peso mais pesado, o governador Flávio Dino, para o STF, o PSOL, seu astro global, ex-deputado Marcelo Freixo, para uma sinecura estatal e o PT, definha sem príncipes herdeiros.
O jogo, tudo indica, será disputado pelas meias.
Não necessariamente com a bola sempre servida aos dois veteranos em permanente e cansativa evidência.
É notório que o escrete precisa de um novo centroavante — alguém que, mesmo não surgindo do consenso quase impossível, represente uma terceira via com fôlego para romper a retranca da economia, ainda em convalescença e o nanismo político diante do gigantismo judiciário.
O Congresso Nacional, como em redenção pelo espetáculo de humor grotesco que virou a CPI da Cloroquina, às vezes dá sinais de que ainda pode ser parte da solução.
A Câmara dos Deputados já demonstrou que pode haver convergência quando mudanças justas são necessárias.
Há quatro anos, a revisão da lei da improbidade corrigiu erros gritantes, limitando poderes que, mal utilizados, causavam sofrimento a famílias e afastavam as melhores vocações do serviço público.
O pouco tempo já mostra quão espantoso que a principal mudança não tenha sido aprovada por unanimidade.
O pré-requisito de provas para que haja uma condenação deveria ter sido sempre a norma — mesmo que nunca sancionada.
Ainda há quem discorde que, fora das narrativas, é preciso dolo e clara intenção de violar a lei para que um crime se configure.
Talvez sejam aqueles que nunca pararam para pensar que nas armadilhas burocráticas e na inércia da máquina pública, é que são expostas reputações às lâminas dos moinhos carniceiros.
Ratificada pelo Senado, a nova lei de improbidade livra de processos e punições, as vítimas de interpretações esdrúxulas sobre o que é causar prejuízo ao erário — onde cabia até o esquecimento de lâmpadas acesas da repartição, num fim de semana.
Agora, mais um sinal de lucidez: o Congresso derrubou o aumento do IOF, impedindo que se aprofundasse ainda mais o peso sobre a população e as empresas em um momento de fragilidade econômica. Foi um gesto concreto contra a insensatez tributária que, muitas vezes, sufoca os que mais precisam de fôlego para produzir, investir e consumir.
São decisões como estas que indicam um caminho possível.
O país precisa encontrar o caminho do meio — onde responsabilidade fiscal e justiça social possam caminhar lado a lado.
Onde o equilíbrio não seja visto como fraqueza, mas como sabedoria.
Onde o bem comum esteja acima da conveniência ideológica.
Só assim, com luz própria e não emprestada, poderemos caminhar rumo a uma sociedade mais justa e pacífica.
A luz há de brilhar mais uma vez.

