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VIAGEM ALHEIA

Máscara funerária de Tutankamon – Museu Egípcio no Cairo.

No meio da neve, ou a depender da estação, do milharal, a pequena cidade, na grande planície,  continua se recusando a crescer.

Para cada morador que parte em definitivo, sem volta, ou para mais perto, em busca de lugar menos frio, um substituto ocupa a vaga deixada.

Tem sido assim no último meio século. Os mesmos 5200 habitantes de sempre. Incluídos os estudantes intercambistas. Cada ano, um de país mais distante e exótico. Até da floresta tropical brasileira já receberam. Em 1970.

Tradições bem preservadas nestes tempos de modernidades.

Como a de reunir amigos para contar as viagens de férias da família.

O que antes era feito nas salas de visitas, em carrosséis de slides, com pop corn, hot dogs , marshmallows e cenas hilariantes das imagens invertidas no up side down, que derrubavam os aventureiros de seus camelos, barcos ou conversíveis, hoje fazem parte de um programa da biblioteca municipal.

(Tem cidade por aí, neste vasto mundo, que ainda têm um lugar onde livros são emprestados e devolvidos depois da leitura).

Os poucos presentes, provavelmente, familiares e amigos mais chegados, foram brindados com uma aula de planejamento para que tudo tivesse corrido sem sobressaltos, com toda segurança, numa região conturbada.

Providências a cargo da agência que todos conhecem e recebe mais um elogio público, como dos oito roteiros já percorridos pelo palestrante.

Segue-se uma aula de geopolítica para explicar que  a aventura em busca dos mistérios do Egito, sonhada a vida toda,  teve que ser adiada por alguns anos até que os distúrbios da primavera árabe fossem acalmados.

A sugestão dos viajantes reincidentes, de escolher um mês de clima mais ameno,  torna-se sem efeito.

Enfrentaram temperaturas de 95°F. Insuportáveis caicoenses,  35°C.

E nenhuma chuva. Uma gota sequer em 15 dias.

Não faltou a sessão do que não pode deixar de ser visto. Das inevitáveis pirâmides à esfinge, passando por inesquecível cruzeiro no Nilo. De águas barrentas, quase pretas.

Mesmo sem nenhuma referência aos tipos humanos, hábitos, nem culinária, como a vida apenas mudasse  de um Hilton para outro, com seus restaurantes de previsíveis sanduíches, o ponto alto da viagem, não poderia ser outro.

Foi incrível ver as pirâmides, pessoalmente.

Nesta altura da jornada, impossível deixar de lembrar Anthony Bourdain chefe de cozinha e apresentador de TV, falecido há pouco mais de três anos.

Na sua terceira visita ao Cairo, diante da insistência dos  anfitriões para irem finalmente a Gizé, preferiu continuar provando das cervejas clandestinas e delícias nos mercados pouco frequentados por nova-iorquinos e nunca pelos viajantes de Minnesota.

Com uma desculpa sem contestação.

As pirâmides?  

Vejo depois no Discovery Channel.

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