Eles nos levam à última fronteira.
Depois de trocar os candidatos ao Oscar por desenhos do Cocomelon, não estão ainda satisfeitos.
Agora, querem que os avós torçam pelo mesmo time deles.
E o jeito?
–Dá-lhe mengão!
(Publicação original em 21/10/2019)
UMA VEZ FLUMINENSE, SEMPRE FLAMENGO
A paixão pelo futebol pode até ser a mesma, mas como mudaram os torcedores.
Nos anos sessenta, já autoproclamados os melhores do mundo, acompanhar as novidades dos times não era tarefa fácil.
Com o predomínio dos grandes clubes cariocas, só quem tinha um transglobe podia ouvir as resenhas e os jogos pela Tupi e Globo. Com muito ruído, microfonia e apitos não soprados pelo filho da mãe do juiz ladrão.
Nos tempos de Waldir Amaral, Ruy Porto, Jorge Curi e João Saldanha quem decidia Gol…. Legal! era Mário Viana (com dois enes), árbitro aposentado e ex-oficial da polícia secreta de Vargas. Falou, estava falado.
Além das páginas dos jornais que circulavam com um ou mais dias de atraso, indispensável a Revista do Esporte (semanal). Exclusiva do futebol e somente do Rio e São Paulo.
Capa colorida, miolo em preto e branco. Papel jornal e impressão de poucos pixels.
Perfis de jogadores e técnicos nos RX de Corpo Inteiro; entrevistas, Bate Bola e até fofocas da Candinha do Esporte, faziam leitura obrigatória e objetos de empréstimos, trocas e coleções.
Na impossibilidade de se conseguir uma camisa oficial, soluções criativas.
Seu Edgar (da Estatística) Viana, apaixonado torcedor, tinha o único simulacro em toda a cidade. Mandou pregar uma faixa diagonal preta numa camisa branca e com um bordado da cruz de malta, desfilava orgulhoso, pela rua grande, nos dias de jogos do eterno vice.
A escolha do time para torcer pelo resto da vida era herança familiar. De pai para filho. Ou influência de um tio ou irmão mais velho.
Ninguém virava a casaca.
Uma vez Fluminense, sempre Fluminense.
A não ser que a sociedade do avô e os netos no Cartola FC comece a apresentar conflitos de interesses.
Na súplica pela escalação dos novos ídolos rubro-negros, Arrascaeta, Bruno Henrique e Filipe Luís e na barração sistemática de Castilho, Pinheiro e Amoroso, alguém tem que ceder.
E quem pode resistir ao convite do sócio de quatro anos e aos gols de Gabriel Barbosa:
-Vai vovô. Torça também pelo Flamengo