MISÓGINOS, GRAÇAS A ELAS
Há termos que entram na luta contra os preconceitos, e de tão empregados, perdem o real significado.
Dizer que um bando de marmanjos, reunidos em torno de uma mesa de café, ou cerveja, são misóginos, é uma tremenda injustiça.
Se a conversa dos machistas é unissex é porque as mulheres se omitem. Nunca pedem pra entrar na roda.
A prova é que as garçonetes não são discriminadas.
A este costume genético-hormonal, universal, devemos muitas estórias inesquecíveis.
(Publicação original em 18/05/2019)
BOCA DE CAIEIRA
Apresentador de programas policiais, emprestou seu talento a quase todas as emissoras de rádio.
Migrou para a telinha, alcançando ainda mais sucesso.
Pedra de Abelha foi o berço que o manteve embalado em mandatos de vereador e ações comunitárias.
Mossoró, o resto do seu universo.
Otoniel Maia era frequentador habitual do bate-papo na sala dos médicos.
Quando os assuntos políticos permitiam, virava conselheiro sentimental.
Aos mais jovens, recomendava, para a longevidade matrimonial, duas famílias. Equânimes e harmônicas.
De preferência em dois bairros distantes, um do outro.
Com regra clara: a parceira mal humorada e enxaquecosa perde a vez. Na escala noturna tacitamente aceita por ambas.
Quando a grade da programação requeria, não se recusava a apresentar músicas. Românticas.
Caprichando na voz aveludada e atencioso aos pedidos de belas páginas musicais, conquistou uma legião de fãs.
Algumas delas, insistiam em manter contato físico. Por estratégia de marketing pessoal, não permitia que funcionários da rádio o identificassem. Arranjava sempre um jeito de escapar do assédio.
Uma mais insistente e cheia de amor platônico para dar, ficou de tocaia no pé da escada, por vários dias seguidos. Não tinha mais como despistá-la.
Resolveu revelar, somente a ela, sua identidade mais ou menos escondida.
Ao se apresentar, recebeu de volta toda a decepção que cabia numa admiradora secreta. E sonora.
-E eu acreditando que era o moreninho de olhos lilases…