CHUPA QUE É DE SANGUE
Cortou as longas madeixas e encurtou as ideias.
No intuito de contribuir para o combate à pandemia, o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo apresentou para aprovação dos colegas, um projeto de lei que permitia a coleta compulsória de sangue ou plasma, pelas autoridades sanitárias, para utilização em pesquisas e tratamentos relacionados com a Covid-19.
Entre as medidas aprovadas para enfrentar o coronavírus, o bravo tribuno cariri não considerou suficientes as restrições impostas pelo isolamento, quarentena e lockdown, e quis transformar o Bodocongó em um oceano de anticorpos.
Seu principal argumento, “a gravidade da pandemia justifica a adoção da coleta compulsória de sangue ou plasma dos pacientes já recuperados”, em nada difere do aboio do Ministro Ricardo Salles para a passagem dos jabutis.
Não foram poucos os que acreditaram na imunidade natural conferida pelas dispensas de licitações e que os respiradores para hospitais infláveis vinham superfaturados com uma camada antiaderente de teflon .
Ainda não acharam onde a botija dos defensores de interesses externos foi enterrada.
Seguidores das teorias de conspiração acreditam que o projeto de lei faz parte de um programa de dominação global, patrocinado pelo governo comunista chinês.
Das espécimes de sangue, sairia um completíssimo banco de dados biológicos para servir à manipulação genética que incluiria até a aparência física das próximas gerações.
Não esclareceram se o objetivo é a produção em larga escala, de bebês de olhos puxados e cabeças chatas.
Nos Estados Unidos, a Genética Forense já dispõe de tecnologia que associada à última versão do Photoshop, consegue o retrato do malfeitor, a partir de estudo do DNA de qualquer resíduo de material biológico deixado na cena do crime.
Na China há denúncias que a coleta compulsória de sangue, lei aprovada à unanimidade pelos congressistas do partido único, é utilizada para identificar pessoas da etnia uighur, seguidores do Islã mais radical. E que até campos de concentração existiriam para doutriná-los.
Mas isso, nem o Deputado Zero Três consegue provar.
Sem respaldo da comunidade científica, a proposta sanguessuga, antes de qualquer tramitação, foi retirada. A pedido do autor.
No café da Praça da Bandeira, dizem é que o jovem senador já está, de novo, deixando crescer os cabelos cacheados.
Melhor voltar a ser chamado de Cabeludo que de Chupa Cabra.