POLÍTICA ABREVIADA
Nunca antes na história deste país, houve eleição mais disputada.
Quem pensava que já tinha visto tudo (e brigado tudo com os parentes) há quatro anos, errou.
Tão feio quanto erram as pesquisas contratadas para fazer a cabeça do eleitor indeciso.
Chegamos à reta final, e o primeiro e um único tema central não tem a página virada na pauta dos candidatos.
Pelo que se discute nas redes sociais, religião é o principal problema desta continental republiqueta laica.
Os lances mais empolgantes da campanha estão sendo pelejados em frente aos altares divinos.
Sob os sons dos atabaques, são evocados os espíritos dos cortadores de pedras que ergueram muralhas na idade média e dos imigrantes compulsórios em grilhões de navios negreiros.
Nos átrios das suntuosas basílicas, a ponto de instalar postos de checagem para exigir dos frequentadores, atestados de vacina contra o mal endêmico das preces fingidas, ouvem-se profanos cânticos.
Será que estamos vivendo o vaticínio do profeta Leonel de Moura Brizola?
–Vai ser a concorrência do diabo com o demônio, e o vencedor será o inferno.
Enquanto a visagem de Antônio Conselheiro só é real na novela das seis, o dragão da maldade acende sua fogueira, numa guerra sem nenhum santo guerreiro para bradar:
–Mais fortes são os poderes do povo.
Ainda resta uma esperança.
Como uma flor desabrochando no esterco do lamaçal que somos obrigados a assistir no horário eleitoral pago com os impostos retirados, quais fecalomas, à força, dos nossos fundões.
A última flor do Lácio mostra seu encanto.
Dos condomínios bem vigiados, às favelas mais abandonadas, surgiu uma polêmica etimológica que calou os fuzis paraguaios e suspendeu as fileiras do doce pó branco.
Quem veio primeiro, a abreviatura ou a gíria que a inspirou?
Complexus, a madre língua ensina, é por si, um paradoxo: “o que rodeia, o que inclui”.
Para a Psicologia, é um padrão de emoções e desejos inconscientes, organizados em torno de poder e status.
Não será nesta eleição que iremos nos livrar do CPX de Vira-lata.
O quadro Samba, de Di Cavalcanti, pintado em 1925, foi destruído em 2012, em um incêndio ocorrido no apartamento do marchand e colecionador Jean Boghici.