PRAGA DE LEITORA
Nas leis que ainda regem a blogosfera, até que venha a das fakenews, qualquer cibernauta, monocraticamente, pode acusar, julgar e condenar.
Para manter livre o espírito do espaço sem dono, quem julga, será julgado.
Quem torce, será torcido.
Depois do controle da pandemia devastadora pode ser que as autoridades sintam-se estimulados a domar a outra fera rebelde.
Não será tarefa fácil. As mídias sociais vêm sofrendo mutações imprevisíveis que fazem quase impossível a descoberta de uma vacina eficaz contra seus efeitos maléficos.
Quando um projeto de lei está ainda sendo discutido na CCJ, o que era para ser regulado já perdeu interesse e objetivos, dispensando a promulgação.
Por decurso de prazo. E por substituição pelo novo que sempre teima em chegar.
Muitos ainda iam pro Orkut, outros já vinham do Tik Tok.
A navegação digital tem enfrentado águas revoltas e ventos tormentosos, propícios para quem se acha no direito e no dever de limitar o que o outro escreve.
Liberdade é censura nos posts dos outros.
Persistentes, não respeitam tréguas, nem mostram compaixão pelos derrotados.
A guerra é uma só. Nunca abandonam a luta. Nem quando todos são atingidos por novos invasores desconhecidos.
A fidelidade ao comandante é cega, sem alternativas.
Quais samurais, perdidos nas ilhas desertas de informação e bom senso, continuaram guerreando, fiés ao imperador que já não comanda exército tão numeroso nem demonstrou saber conduzir a tropa em segurança.
Empregam táticas de guerrilha e partem para o ataque sem saber para onde atiram.
A leitora Maria da Penha, ao contrário da homônima, quer implantar uma lei baseada no medo para garantir seu direito de só ler o que lhe agradar.
Incomodada com o pensar pacífico do aprendiz de cronista que o rumo da nação pode mudar, sem maiores traumas, somente com uma caneta azul e um gesto solitário de quem sempre declarou amor à pátria, acima de tudo, usa tática de guerrilha amaldiçoada.
O ataque na retaguarda, nos comentários do blog, área que já foi bem mais movimentada em embates de ideias e opiniões, foi bem absorvido.
A arma utilizada, camuflada de mau agouro, chegou atrasada. Não pode mais causar mal algum.
Sabe que vai perder o emprego, você que escreveu a matéria.
Espere só, ficarás em casa, sem ninguém ao menos vai te telefonar, perderás os amigos.
A solidão te espera, receberás na mesma moeda, e no tempo de Deus.
Aposentado, em quarentena pandêmica, já tendo renunciado ao hábito de bater um fio há muito tempo, resta propor à bruxuosa leitora, outros vaticínios.
Da próxima vez, pragueje para que não escape do serviço militar e que seja reprovado três (mas pode ser quatro ou mais) vezes no Enem.
O quase septuagenário agradecerá.