Não foi desta vez que a paz voltou a imperar no reino das famílias.
As feridas que sangravam há cinco anos ainda estão longe da cicatrização.
Daqui a algum tempo, quando os sites de relacionamento estiverem lembrando as fotos das festas deste ano, é que as ausências serão sentidas.
De quem justificou a falta por motivo sabidamente injustificável ou se presente, não quis dividir o mesmo espaço no álbum de recordações.
Não fosse tão rápido em seu trenó, o bom velhinho teria perdido o lugar que ocupa há séculos, para um vilão verde e asqueroso.
Grinch e seu espírito desmancha-prazer foram sentidos por toda a parte.
Não se sabe ainda ao certo como ele entrou em tantos lares.
Pelas chaminés, é que não foi.
Quase não as temos em nossas casas.
Há quem considere que o motivo para tanta comemoração foi desvirtuado.
Muito comercial.
Muita hipocrisia.
Os mais pragmáticos reclamam da rotina que piora, do trânsito caótico, do sorvedouro de dinheiro e do estresse pra resolver tanta coisa, na última hora.
Há quem ache tudo que os outros adoram, de extremo mal gosto.
Só não conseguiram convencer disso, as crianças.
O conforto é que os Ebenezer Scrooges sempre estarão recebendo a visita sazonal dos seus fantasmas.
De um dos três, ninguém se livra.
Do que visita o passado, trazendo tantas boas lembranças.
Que já foram mais felizes. Pelo menos por uma noite. Repetida todos os anos.
Do que continua, independente das curvas da tortuosa estrada da vida, a preservar o sentimento e passar adiante pra quem tem muito caminho ainda a percorrer.
E do que mostra, em pesadelo, que o tempo avança, sem paradas nem recuos. Que a oportunidade perdida, não volta. E que o fim pode ser solitário e cruel.
Enquanto as divergências políticas continuarem a expor as fragilidades familiares, o inferno serão os outros.
E o Natal, saudade.
(O texto publicado há quatro anos, continua sem merecer atualizações)