27 de abril de 2024
Familia

RESENHA DE NATAL

A Ceia em Emaús (1601) – Caravaggio – National Gallery, Londres


Não foi desta vez que a paz voltou a imperar no reino das famílias.

As feridas que sangravam há cinco anos ainda estão longe da cicatrização.

Daqui a algum tempo, quando os sites de relacionamento estiverem lembrando as fotos das festas deste ano, é que as ausências serão sentidas.

De quem justificou a falta por motivo sabidamente injustificável ou se presente, não quis dividir o mesmo espaço no álbum de recordações.

Não fosse tão rápido em seu trenó, o bom velhinho teria perdido o lugar que ocupa há séculos, para um vilão verde e asqueroso.

Grinch e seu espírito desmancha-prazer foram sentidos por toda a parte.

Não se sabe ainda ao certo como ele entrou em tantos lares.

Pelas chaminés, é que não foi.

Quase não as temos em nossas casas.

Há quem considere que o motivo para tanta  comemoração foi desvirtuado.

Muito comercial.

Muita hipocrisia.

Os mais pragmáticos reclamam da rotina que piora, do trânsito caótico, do sorvedouro de dinheiro e do estresse pra resolver tanta coisa, na última hora.

Há quem ache  tudo que os outros adoram, de extremo mal gosto.

Só não conseguiram convencer disso, as crianças.

O conforto é que os Ebenezer Scrooges  sempre estarão recebendo a visita sazonal dos seus fantasmas.

De um dos três, ninguém se livra.

Do que visita o passado, trazendo tantas  boas lembranças.

Que já foram mais felizes. Pelo menos por uma noite. Repetida todos os anos.

Do que continua, independente das curvas da tortuosa estrada da vida, a preservar o sentimento e passar adiante pra quem tem muito caminho ainda a percorrer.

E do que mostra, em pesadelo, que o tempo avança, sem paradas nem recuos. Que a oportunidade perdida, não volta. E que o fim pode ser solitário e cruel.

Enquanto  as divergências políticas  continuarem a expor as fragilidades familiares, o inferno serão os outros.

E o Natal, saudade.

A Adoração dos Pastores (1609) – Caravaggio – Museu Regional de Messina, Sicília, Itália


(O texto publicado há quatro anos, continua sem merecer atualizações)

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