SWAB É O DRIVE TRU
Seis anos depois da sua morte, Ariano Suassuna (1927-2014) ou estaria enfrentando maiores dificuldades ou teria muito mais assunto para suas aulas-espetáculos, nas observações e críticas à invasão de palavras estranhas à nossa última flor do Lácio. Inculta e bela.
Sob forte influência da língua inglesa, a pandemia também trouxe, junto com sua onda de destruição, um palavreado indispensável para entendê-la.
Idioma, por si, universal e cosmopolita, pela facilidade de ser utilizado como segunda fala, o inglês é indispensável.
E inevitável em mundos digitais.
Formado à partir de dialeto saxão, enriquecido por outras palavras de outras origens. Celtas, escandinavos, latinos e os que mais tenham nomes fáceis de pronunciar.
Acompanhando a evolução e o progresso das ciências médicas, uma vasta nomenclatura inglesa é absorvida por outros povos e dizeres, sem necessidade de tradução.
Palavras instantaneamente incorporadas às culturas, antes da necessidade de criação de uma própria, na língua mátria.
Teria o gênio de Casa Forte já se rendido aos novos hábitos e formas de expressão?
Uma palavra que já substitui outra exótica, é o exemplo mais evidente.
Sem ela, a higiene corporal não se completa nem a coroa da doença é depredada.
Hastes flexíveis de pontas revestidas com algodão há muito são conhecidas, de Ancorage a Taperoá, pelo nome de marca de uma super multinacional.
Qual uma gilete que há muito deixou de ser lâmina de barbear.
Em 1920, o cientista polaco-americano, Leo Gerstenzang, preocupado com a integridade dos tímpanos da filha, tornou mais suave a limpeza dos ouvidos.
Não foi feliz com o batizado.
Baby gay.
Muito antes que se falasse em teoria de gênero e se admitisse que crianças podem escolher o próprio sexo aos oito anos de idade.
A solução do problema familiar levou o inventor polonês a fundar empresa e fazer sucesso e fortuna com produtos para cuidados infantis.
As hastes ficaram conhecidas pelo mesmo nome da fábrica, Q-Tips, até que a concorrente Johnson&Jonhson lançasse os seus cotonetes e conquistasse os orifícios auriculares e dicionários.
Agora, o uso específico para coleta de material na nasofaringe para pesquisa do vírus traiçoeiro, popularizou de vez, outra palavra.
Concisa, simples e fácil de pronunciar.
Apesar de, na terrinha, já terem tentado aportuguesar o diminuto esfregão para suabe, o vêdabliu não deixará de ser escrito.
Dá até pra imaginar onde o pai de Chicó e João Grilo mandaria enfiar o swab caçador do vírus chinês.
Só não se sabe o que diria se tivesse de ser examinado num drive tru.
–Da mãe de quem?
Sempre perspicaz, culto e ferino com o uso das letras. Parabéns Dr. Domício.
Importante esclarecer, em meio a um texto de bom ritmo e certa leveza, ainda que tratando sobre swab, que ninguém “escolhe” o próprio sexo, aos 8 ou aos 80. Quanto mais se estuda sobre sexualidade, mais entendemos que não é escolha nem opção, é orientação: sexual, mas principalmente de afeto. Amar ao próximo é mister, com swab ou suabe.