4 de maio de 2024
Política

PF investiga suposto pagamento de propina a Jaques Wagner, lembrado para concorrer à Presidência pelo PT

Do G1

O ex-governador da Bahia Jaques Wagner é investigado pela Polícia Federal por supostamente ter recebido R$ 82 milhões em propina do consórcio responsável pela construção da Arena Fonte Nova, em Salvador.

As investigações fazem parte da Operação Cartão Vermelho, deflagrada nesta segunda-feira (26). De acordo com laudo da PF, as obras da nova Arena Fonte Nova foram superfaturadas em valores que, corrigidos, podem chegar a mais de R$ 450 milhões.

Documentos, mídias e 15 relógios de luxo foram apreendidos no apartamento de Wagner, em um prédio no Corredor da Vitória, área nobre da capital baiana. A sede da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, pasta que Wagner comanda atualmente, também foi alvo de mandados.

Em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, a PF informou que ainda investiga o destino final dos valores, mas disse que parte da quantia pode ter sido paga por meio de doações a campanhas eleitorais.

A PF também cumpriu mandados nas casas e nos escritórios de Bruno Dauster, chefe da Casa Civil da Bahia, e do empresário Carlos Daltro, amigo de Wagner. A polícia investiga se Dauster e Daltro atuaram como intermediários para o recebimento de propina a Wagner.

Segundo a PF, parte da propina entregue a Wagner, no valor de R$ 500 mil, foi feita na casa da mãe do ex-governador, no Rio de Janeiro.

O G1 ficou durante toda a manhã em frente ao prédio onde mora Jaques Wagner, onde esteve também o advogado do petista, Pablo Domingues. Questionado pela reportagem, Domingues não comentou as acusações contra o cliente. Ele disse apenas que deve convocar uma entrevista coletiva ainda nesta segunda-feira.

A reportagem procurou também a assessoria da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e aguarda posicionamento.
A Fonte Nova Negócios e Participações (FNP), concessionária responsável pela gestão da Arena Fonte Nova, informou que aguarda informações oficiais sobre a Operação Cartão Vermelho, mas disse que se coloca à disposição das autoridades para colaborar no que for preciso.

A Polícia Federal informou que pediria à Justiça autorização para conduzir coercitivamente Wagner, Dauster e Daltro, mas, como decisão recente do Supremo Tribunal Federal suspendeu as conduções coercitivas, a PF decidiu pedir a prisão temporária dos três suspeitos, o que foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

A PF, então, pretende ouvir os suspeitos em depoimentos que ainda serão agendados.

Investigações

Segundo a delegada da PF Luciana Matutino, este inquérito tramita desde 2013 com base em estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que apontou irregularidades na Parceria Público Privada (PPP) para demolição e reconstrução da Arena Fonte Nova. Esse estudo foi enviado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que na época analisou as contas e julgou o contrato ilegal.

“Em razão de laudos periciais, verificamos que houve fraude para beneficiar o consórcio formado por Odebrecht e OAS”, diz a delegada.

De acordo com as cláusulas do edital de licitação, somente as duas empresas atendiam a alguns requisitos – como experiência em demolição, serviço que acabou prestado por empresa terceirizada. “Então, não havia motivo para que essas exigências fossem colocadas no edital”, diz a delegada.

Em nota, a Odebrecht informou que está colaborando com a Justiça. “[A empresa] já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”, diz a nota.

Do Blog: Jaques Wagner é um nome lembrado para disputar a Presidência da República pelo PT, após o ex-presidente Lula ter sido condenado em segunda instância.