3 de maio de 2024
Comportamento

7.0

 

Autorretrato (1659) – Rembrandt – Galeria Nacional de Arte, Washington

No rescaldo dos destroços  do grande dilúvio seco, números, gráficos, estatísticas e relatórios revelam que aniversários não foram devidamente comemorados por longos e angustiantes dois anos.

Pelo menos, como  das vezes anteriores, com viagens inesquecíveis para a coleção das que fechavam as décadas de números cheios e redondos.

Europa, 15 maravilhas em única excursão, aos 40.

Paris, só ela, nos 50.

Santorini para  inaugurar a velhice do sessentão.

Lembranças do segundo filho que chegou tangendo as vacas magras dos 30; e até dos 20, ainda sob  tutela e nenhuma festa, por conhecido costume maternal.

Redatores dos decretos governamentais perderam a oportunidade de uma justa compensação.

Tão simples, a suspensão da contagem do tempo em isolamento social e sua subtração da idade real, sem prejuízos ao envelhecimento futuro.

Mesmo quem nunca ligou para as próprias efemérides, mesmo para os auto-considerados pouco invejosos, mesmo quem sempre sonegou a informação dos anos bem vividos, a volta do tempo perdido é revigorante.

Para virar a página da existência, em tempos de bonança, depois da tempestade, e da chegada das  múltiplas doses da vacina aos braços aflitos, analistas do comportamento humano ainda terão o que explicar.

Ocorreu uma sobrecarga maior de influência do inferno astral que antecede as datas pessoais, em período tão marcante?

Se de fato, a queda de energia e de vitalidade aconteceu, a reabertura  das portas e corações, será de crescimento espiritual, como acreditam os esotéricos?

Chegou a hora de cumprir as promessas das muitas mensagens de felicitações à distância, com todo o calor dos abraços apertados,  esquecidos os medrosos  toques de cotovelos.

A diferença já aparece nos retratos em #tbts, lembrando que nunca serão apagados os dois primeiros anos da terceira década, do vigésimo primeiro século.

Ninguém deixa de lembrar que foram de calção e camiseta, barba de bode velho, cabelos com saudades do barbeiro, e sem convidados para o bolo de padaria, e sem velas de indiscretos números reveladores.

Anos únicos, inigualáveis em reflexões sobre o sentido da vida.

As fotografias  que não mentem, mostram a alegria contida, e a esperança, que tudo aquilo teria fim, e que a vida retomaria seu caminho sem volta.

Na peleja da velha trilha batida, ainda resta uma dúvida:

O novo setentão já pode volver a los sesenta y ocho?

                                            ***

Assista o clip que completa o texto:

Mercedes Sosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gal Costa – Volver a los 17

Autorretrato com 23 anos (1629) – Rembrandt – Museu Mauritshuis, Haia, Países Baixos

2 thoughts on “7.0

  • Luíz Costa

    Parabéns ao Cronista, modelo 7.0 DEUS continue abençoando em tudo sempre!!!

    Resposta

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