5 de maio de 2024
Opinião

Idas e vindas do rico RN tentando virar o novo rico

 

Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 29/06/22

De 1980 para cá, quando apareceu uma praga – do “bicudo” – para justificar a inviabilidade da cultura do algodão que representava 80% da economia do Estado, que vários “ciclos econômicos” foram vivenciados, embora nesses 40 anos não tenha surgido um PROJETO para o Rio Grande do Norte, capaz de convencer as principais lideranças estaduais a abraçá-lo,

E por falta de um Projeto é difícil convencer as lideranças estaduais em torno de uma ideia com força suficiente para merecer as atenções e se transformasse o objetivo comum de um Estado como o nosso.

Ao longo desse tempo surgiram algumas propostas, muitas das quais para levar um alento ao norte-rio-grandese de que este é um Estado rico (no máximo, um pobre Estado rico) e se continuava na mesma.

Foi assim que se falou em turismo e petróleo dois segmentos que que se firmaram e chegaram a oferecer perspectivas.

Nesse período o RN tornou-se o maior produtor de petróleo em terra (on shore) do Brasil; e com a Via Costeira, Natal se transformou, a partir de então, num dos principais polos turísticos do Brasil.

MUDANÇA DO VENTO

Quando o deputado Manuca Montenegro instalou um “moderno” aerogerador solitário para produzir energia na Várzea do Assu, nos anos ´70, o fato foi visto como uma excentricidade do parlamentar.

Catavento e – VENTO FORTE – só apareceram na campanha de Geraldo Melo para Governador anunciando que “Sopra um vento forte no Rio Grande do Norte…”  e tendo um tradicional catavento das salinas artesanais, como logomarca. Mas nem o Governo, e mesmo posteriormente a comunicação de Melo (ele próprio um craque na matéria) aproveitaram o sentido profético dessa abordagem que terminou se transformando numa alternativa de desenvolvimento (carro chefe da campanha vitoriosa), desde quando um executivo do grupo Iberdrola, assessorado por um corretor local, fez as primeiras medições da intensidade e frequência dos ventos nas várias regiões do Estado.

O sucesso – maior produtor de energia eólica do Brasil – foi tão rápido que o nosso RN poderia ter virado um “novo rico”, como tem um “clássico” na sua história…

ESTADO DE NOVO RICO

Raul Capitão iniciou a vida como empregado da Fazenda Amarante, onde viveu por 18 anos, como trabalhador-alugado. Ao sair, adquiriu nas proximidades a Fazenda Bonfim, onde fixou residência e ganhava a vida .

Ai encontraram “uma pedra diferente”, numa área que se dizia ter minério; a pedra era à scheelita, minério que dá liga ao ferro. Isso no ano de 1967. Em pouco tempo uma montanha incalculável de dinheiro caiu no colo de Raul, transformando o antigo agricultor de 55 anos em um dos homens mais ricos do Rio Grande do Norte. – Rico e extravagante.

Adquiriu várias propriedades rurais, dentre elas à Fazenda Ingá com mais de 11 mil hectares, onde plantava algodão e criava gado. Tornando-se uma figura legendária na região. Raul Capitão ficou tão rico que concedia entrevistas sentado em sacos de dinheiros.

A fortuna gerada pela scheelita (e a figura de Raul Capitão) no RN, atraíram a revista Realidade, da Editora Abril, especializada em grandes reportagens, enfocando o novo-riquismo no Nordeste:  mais de 2 mil garimpeiros (uma mini Serra Pelada com um Dono), e de compras tão desencontradas com uma onça e um circo. Quem melhor descreveu a reino do nosso Capitão foi o historiador Ricardo Sobral.

REFERÊNCIA NACIONAL

O primeiro empreendimento eólico para geração de energia elétrica do Rio Grande do Norte foi o parque eólico construído pela Petrobras, apenas para autoconsumo, em 2004, no município de Macau, distante 188 km de Natal. O parque possui três turbinas eólicas, com capacidade de 600 kW cada uma, totalizando 1,8 MW de potência instalada. Ainda visto como uma esquisitice para grandes grupos, do porte da Petrobrás.

Dos 503 parques eólicos em operação em todo o Brasil, 407 se encontram no Nordeste, que juntos apresentam uma capacidade instalada de 10,72 GW, representando cerca de 84% de toda a capacidade do país.

Localizado no extremo Nordeste do Brasil, o Rio Grande do Norte está situado entre os paralelos 6°58’57″S e 4°49’53″S e os meridianos 38°34’54″W e 34°58’08″W, fazendo divisa com o Oceano Atlântico, a norte e a leste; com o estado do Ceará, a oeste; e com o estado da Paraíba, a sul.

O RN conta com 117 usinas eólicas e mais de 1.500 turbinas em operação, fruto de investimentos de ordem de R$ 7 bilhões só nos últimos dois anos. São mais de 20 empresas de geração de energia com projetos em operação, quase todas com capital vindo de fora do Estado.

SER RICO OU NOVO RICO

Nosso Rio Grande do Norte vive neste momento a dúvida de não passar de novo rico, para ser um Estado realmente rico, com a nova fronteira da produção de energia eólica no meio do mar, a offshore, com a corrida pelas oportunidades já abertas (por hora na busca de licenças ambientais).

Ao contrário do enorme crescimento dos parques eólicos onshore, que trouxeram poucas indústrias, a situação muda no offshore. A condição de produção, de operação e de construção no mar é uma condição totalmente diferente, que requer novos atores, maiores envolvidos no processo e nova escala de grandeza.

Para essa nova indústria o Brasil deverá ser destaque, e no Brasil, o Rio Grande do Norte será o maior. A indústria do onshore não veio para cá como fabricantes de aerogeradores. Nós temos empresas de montagem altamente qualificadas, indústrias de operação, manutenção, apoio, montagem, construção, mas a de aerogeradores, especificamente, não veio por condições e dificuldade de acesso de porto e de estrada. No caso da indústria do offshore, a estrada é o mar e a infraestrutura necessária é a existência desse porto ou de condições naturais para que cada empresa desenvolva o seu porto.

O jogo começa a ser jogado. O RN tem a palavra para dizer o que quer ser.

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