SINAIS VITAIS
Paris está, de novo, em festa. A cidade que sofreu as mesmas angústias de todas as outras de todos os lugares, volta a brilhar.
O verão que se aproxima é a primavera que este ano não despertou, se confundindo com o rigoroso e demorado inverno.
Na primeira oportunidade, com seus bares, bistrôs e tabernas autorizadas a funcionar nas áreas externas, as mesas ganharam as calçadas pelas ruas estreitas do Quartier Latin.
A alegria dos reencontros, mostrada em pequenas filmagens nas redes sociais, é comovente. O distanciamento é respeitado mas as imagens falam. As pessoas parecem mais iguais, próximas e felizes.
É muito provável que o assunto das conversas tão animadas sejam relatos das experiências vividas.
Registros das ausências e saudades que nunca irão passar.
Esperança que o futuro será melhor. Vida renovada em celebração profana.
Em Genebra, os barcos estão sendo preparados para encher o Léman de velas brancas. Para eles, a tempestade já passou.
Veneza sempre vaidosa, agora mostra sua beleza para quem pouco podia dela desfrutar. Seus próprios moradores, sempre sufocados nas multidões de turistas.
A Espanha anuncia que visitantes continuarão bem-vindos. Mas que esperem um pouco mais pela arrumação da casa.
Escandinavos entram no ritmo menos veloz dos veículos sem motores e viajam para longe do longe.
A China lembra que os negócios continuam. De preferência à distância. Catálogos eletrônicos dispensam enfadonhas viagens.
Os americanos voltaram às praias da Flórida e da Califórnia. E às ruas de Mineápolis, Nova Iorque e todas as outras cidades onde restem desigualdades.
Último epicentro da pandemia, o Brasil ainda reluta em seguir, esperarando por guias que o leve para o mesmo destino de sempre. A praça do confronto e da discórdia.
Nem o flagelo nos faz esquecer que nossas diferenças nos tornam tão iguais.
Separados em polos que não se atraem, nem transmitem energia para melhorar a vida de todos.
O perigo que impõe convivência forçada, por tempo incerto, é também a mais dura lição que a humanidade já tomou.
De como tratar a natureza.
Do que é essencial e importante.
Como dependemos do outro.
O que é necessário para viver.
O que pode e deve ser compartilhado.
E o alerta de um incrível esquecimento.
Todos precisam respirar.