MONTE SEM GAMELEIRAS
Emancipada há 55 anos, não chegou a receber do mestre Cascudo, o resumo histórico como tantas outras cidades mais antigas.
O charmoso destino do turismo de montanha, deve ao Majó Theodorico Bezerra a carta de alforria que a libertou do jugo de Nova Cruz.
O trauma político da separação, nem um pouco amigável, só não chegou a estremecer as estruturas do PSD, porque partidos, naqueles tempos, eram fincados em bases sólidas, ideológicas e principalmente, pragmáticas.
Apesar da forte reação do correligionário da região, a sanha emancipacionista do dirigente partidário atingiu também o antigo distrito Monte Alegre, nas então longínquas e quase inacessíveis franjas do planalto da Borborema.
Os contra-argumentos que a toponímia já contemplava outra comunidade próxima e mesmo a baixa densidade demográfica, não foram suficientes.
Para quem já vinha fazendo poesia ao nomear novos municípios (quando o irapuru canta, tangará dança), não foi difícil encontrar nas poucas árvores da única rua de barro batido, inspiração para um nome marcante.
Mais preocupado em demostrar seu descontentamento que a preservação da natureza, o deputado anti-separatista Lauro Arruda mandou arrancar, pelas raízes, as frondosas árvores que encantaram o senhor das terras da Fazenda Irapuru e dos currais eleitorais da recém-criada Tangará.
Por muitos anos, o monte, triste sem suas gameleiras, foi só um nome no mapa.
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(Não se falava ainda no mirante que caiu no precipício da política , quando este texto foi publicado em 08/06/2019.
Certo que o crime ambiental, no tempo em que Ecologia não entrava em pauta, já prescreveu, vale o replantio e a reedição pelo filho insólito).