2 de maio de 2024
CPI

A ABSOLVIÇÃO DO SENADOR XIRÚ

A Crucificação de São Pedro (1600) – Caravaggio – Capela Cerasi de Santa Maria del Popolo, Roma


Nos países mais pobres, onde as vacinas ainda não haviam  chegado  aos braços macilentos, as pessoas se protegeram da pandemia, como puderam.

Não geraram estatísticas, nem o total de vítimas é número confiável.

Os médicos atendiam em hospitais tão precários que  a energia elétrica só estava disponível, metade do dia.

No início da catástrofe sanitária, a Somália contava com 15 leitos de UTI para atender seus mais de 15 milhões de almas sofredoras, em guerra e miséria eternas.

A esperada explosão de casos não ocorreu no continente, mãe de todos.

Ou não interessou à grande mídia.

Há quem pense que alguma droga de uso universal e periódico para verminose, salvou  a população mais vulnerável.

Quando era quase impossível o preenchimento das escalas de plantão nos hospitais brasileiros, e as desistências e mortes dos profissionais de saúde começavam a diminuir, há quem atribua a mudança do cenário, a algum remédio que estivesse ajudando outras medidas de proteção, como profilaxia.

O efeito foi notável mas não deixou  evidências científicas.

psicológicas.

Se um dos mais famosos infectologistas do país, médico das celebridades e políticos poderosos, coordenador do comitê de enfrentamento da pandemia no mais rico e populoso estado da federação, teve revelado,  por farmacêutico indiscreto,  sua receita de auto-medicação, não se pode estranhar que muitos outros médicos estivessem  prescrevendo também, o mesmo remédio para piolho.

Na companhia de prêmio Nobel, do mais conhecido pesquisador francês e de professores de famosas universidades americanas, não foram poucos os estudiosos brasileiros a orientar os médicos que enfrentassem o inimigo oculto, em campo aberto, na linha de frente, convictos que  o curso da doença seguia um padrão que podia ser dividido em fases.

E que havia muito o que fazer, em cada uma delas.

E que não tinha sentido esperar como os terraplanistas e achatadores da curva de contaminação, que o ar faltasse para só então procurar o tubo salvador que não soprava nos hospitais equipados de improvisação.

Ou esperar os respiradores já pagos,  e nunca vindos da terra do nunca.

Quando um ministro da justiça, em defesa da presidenta no processo de impeachment, citou o Professor Tomáz Turbano, a culpa do cacófato recaiu no coitado do estagiário.  Que perdeu a bolsa.

Já um laurel de gozação em curriculum de cientista admirado, foi de cortar a cabeça do xirú, índio velho da fronteira, com navalha enferrujada.

Assiduidade, paciência, respeito aos 15 minutos de fama diária, cordialidade com os colegas, calma de bispo luterano.

Nada disso impediu que um relator macumbeiro gastasse suas velas de defunto ruim, para tentar transformar  a vontade de ajudar, a dúvida e o direito à livre manifestação do pensamento, em crimes.

Bullying e chacotas não foram levados em consideração no decoro parlamentar da CPI mais inútil que nunca houve antes neste país.

O Senador Luis Carlos Heinze,  incluído pelo xerife relator  no rol dos cabras marcados para morrer de má reputação, dois anos depois de virada a página infeliz do parlamento,  merece  um comentário, tipo  William Bonner:

O senhor não deve nada à Justiça.

 

A Decapitação de João Batista (1608) – Caravaggio – Catedral de São João, Valeta, Malta

(Este texto, publicado em 29/10/21, sofreu adaptações temporais)

One thought on “A ABSOLVIÇÃO DO SENADOR XIRÚ

  • Geraldo Batista de Araújo

    Os médicos do Walfredo sofrem do mesmo jeito. Ali só não falta a boa vontade dos médicos.

    Resposta

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