A AGONIA DO PRESIDENTE SOLIPSISTA
Os filósofos costumam mergulhar no oceano do conhecimento à procura dos tesouros afundados junto com os galeões que carregavam os mistérios da vida.
Alguns exageram, como se em busca de uma pergunta sem resposta, estivessem.
A uma delas, a interrogação fica solta no ar, sem teto para pouso na pista da Filosofia.
O Solipsismo é realmente irrefutável?
Se a realidade está mesmo reduzida ao indivíduo que pensa, se o que importa são as próprias sensações, se os outros são meros coadjuvantes, sem existência própria, é de se concluir que não deveria restar dúvidas.
Doutrina filosófica sem patronos, o Solipsismo tem sobrevivido desde os tempos pré-socráticos, sem discípulos que a transmitam às próximas gerações.
Praticada por monges em clausuras, seus adeptos vagam pelas ruas, vivendo de esmolas, presos por trás das grades das drogas alucinógenas, ou confinados nos pavilhões dos nosocômios psiquiátricos.
Não é difícil a identificação do solipsista brasileiro que foi mais longe.
O mais bem sucedido e poderoso.
Depois de 29 anos isolado na bancada do fundão, um único salto solo, e sem o paraquedas de um partido político de verdade, aterrissou no planalto central, numa selva repleta de lobos vorazes.
Fechado em si, não mudou convicções, nem admitiu pensamentos divergentes, mas acatou suspeitas companhias.
Nunca escondeu o desejo de ser o único a ditar regras e condutas.
A não aceitação da neo-ciência midiática o levou a uma insana busca por soluções mágicas e à crença que tudo é natural, a ser resolvido pelo tempo, independente do lamento por sofrimento e mortes.
Quem se achava ungido por Deus, agora preso na solidão dos apeados do poder, vê sua vida transformar-se num inferno.
– Capitão, é melhor jogar tudo pro alto e sair por aí, sem destino.
Como todo e qualquer solipsista.
(O Solipsismo foi, pela primeira vez, tema neste espaço, em 10/04/2021)