A MÃE-ROBÔ
O tão esperado papai-noel não decepcionou.
Adquirido depois de exaustiva pesquisa das necessidades do cliente, incluídos acessos aos melhores sites e visitas de prospecção a todas as lojas dos shoppings.
Só faltou o elemento surpresa, por mais despistes e até, da entrega em embalagem clamuflada de roupas infantis.
Ainda em meio à montanha de papéis coloridos, caixas rasgadas e procura por partes perdidas na sofreguidão das montagens apressadas dos brinquedos, a inédita revelação.
O freguês, aparentemente atendido nos seus desejos, não ficou completamente satisfeito.
É hora de fazer como empresas mais competitivas, e aplicar técnicas de pós-vendas.
Conhecer a fundo, seu cliente, e colocar-se no seu lugar.
Empatia é a alma do negócio.
Aquele era o momento ideal para demonstrar preocupação com a satisfação total do presenteado consumidor.
A oportunidade de acertar com precisão, o centro do alvo.
Da próxima vez.
A conversa sincera, olho no olho, revelou que a encomenda recebida era de boa qualidade.
Marca conhecida.
Compatível com outras peças do acervo do novo proprietário.
Apesar das aparências, a conclusão foi que a pista do Hot Wheels do Luigi não era bem o objeto dos desejos do Luiz.
O que ele queria era muito diferente. Na verdade, um robô.
Não um desses, de faz de conta, de brincadeira.
Nem daqueles que varrem a casa toda, até os cantos das paredes.
Mesmo os que são anunciados para um futuro próximo, com promessas de tantas funções como pegar cerveja na geladeira e achar chaves perdidas, estão longe de atender os anseios do pequeno usuário de novas tecnologias.
O autômato idealizado deve ter funções a serem desempenhadas no ambiente doméstico e escolar, atender não só às crianças e estar disponível para compra na próxima data alusiva ao consumismo.
O Coelhinho da Páscoa passa a ser ansiosamente aguardado.
Que venha na companhia de uma geringonça que arrume a bagunça do quarto, guarde todos os brinquedos espalhadas pela casa, faça as tarefas da escola e principalmente, substitua uma médica endocrinologista em todos os seus afazeres, incluídos os intermináveis plantões
.-Quero ficar o tempo todo com minha mãe.
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(Com modificações, este texto foi publicado em 26/12/2019)