A MOSCA NA SOPA DA ENFERMAGEM
Mal tinha acabado a fase mais crítica da pandemia, já dava pra notar que o reconhecimento pelo trabalho, esforço e sacrifício dos profissionais de saúde iria ficar somente em vazias palavras de gratidão.
Os mais ingênuos esperavam alguma ação consistente para melhoria salarial e condições de trabalho, com a mesma presteza como foram convocados jovens médicos e enfermeiros para a luta quase suicida.
Os grandes investimentos, agora relembrados no guia eleitoral, não foram além de equipamentos, incluídos os de proteção individual, os que mais falharam.
As questões fundamentais, como pisos salariais e ajustes nas jornadas de trabalho foram realocadas nas rubricas das ações de longo prazo dos planejamentos estratégicos.
A certeza que as novas ondas e crises passariam, aposentou precocemente os passaportes sanitários, acalmou o furor vacinatório, e determinou que no Hospital do Dr. Abrantes, tudo voltaria a ser como d’antes.
O primeiro sinal já foi patognomônico.
O Tribunal de Contas mandou cortar as gratificação de insalubridade de quem mesmo aposentado havia voltado ao batente em hotéis travestidos de hospitais, UTIs improvisadas e UPAs com pacientes contados, como gado, às horas de porteiras abertas.
Ainda era preciso provar, não só que a atividade era de risco, como os salários são injustos para a complexidade e importância do trabalho.
A primeira governadora de origem popular e o primeiro governo do partido dos trabalhadores não deflagraram esta bandeira, deixando a batata assar no Congresso Nacional, que prescreveu a receita adequada e necessária.
Os companheiros e companheiras, ex-sindicalistas, perderam a fórmula que calculava a recomposição dos salários.
Esqueceram como se pede a reposição das perdas acumuladas em sucessivos governos burgueses.
Não lembraram mais de outros benefícios.
Muito menos da equiparação com os demais poderes, incluído o que veta o aprovado democraticamente pelo parlamento.
Apesar de tudo, os velhos slogans sempre insistem em voltar, por mais que ainda achem que enfermeiro só serve pra dar sopa na boquinha dos doentes.
A luta continua.