A PONTE DOS DESEJOS
Era só correr água no Curimataú, que a cidade ficava isolada da capital.
Sem rodovias, restavam o trem, as baldeações e a Parahyba.
A ponte era a obra mais esperada. A única chance de sobrevivência quando as ferrovias começavam a perder espaço para os carros, ônibus e caminhões importados e que logo passariam a ser produzidos no país.
Quando promessa de campanha política era cumprida, o sonho de uma cidade inteira foi feito realidade pela obstinação de um jovem recém-eleito.
O Rio de Janeiro, concentrando poder e dinheiro, foi o destino do primeiro alcaide eleito pelo voto popular (só dos alfabetizados), em 1948.
A primeira-dama nunca deixou de reclamar da longa ausência. Jurava, e contou aos netos, a viagem administrativa havia durado inacreditáveis seis meses.
Passados entre o Hotel Ambassador, os gabinetes da burocracia pós-Estado Novo e as galerias do Palácio Tiradentes.
E pelo Teatro Rival e todos os outros que apresentavam revistas e vedetes. Que ninguém resistia aos encantos maravilhosos da cidade efervescente.
Pertencer ao PSD, mesmo partido do presidente e ter o apoio do experiente Senador Georgino Avelino e do estreante Deputado Dioclécio Duarte, ajudaram.
Mas incluir o pequeno município no Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), o programa de aceleração do crescimento da vez, era missão quase impossível.
Valia quase tudo. Até a promessa de dar o nome do diretor do Departamento de Estradas à obra de arte tão almejada.
O engenheiro Régis Bittencourt não é só a estrada que liga São Paulo a Curitiba. Também é ponte no Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Nova Cruz.
O périplo não seria completo, sem mimos a Dona Santinha e o beija-mão do Marechal Dutra.
Ao ser apresentado, a inesperada pergunta presidencial.
Se na cidade sem ponte, não tinha ninguém mais velho e experiente para administrá-la.
A resposta do jovem prefeito Lauro Arruda foi tão desconcertante quanto a pergunta:
–Tinha meu sogro, mas foi derrotado por mim.
(Texto publicado em 16/09/2019)