A PRAIA DE SANTIAGO
Quando a indústria sem chaminés ainda era devaneio, Ponta Negra já parecia fadada à jóia da futura coroa.
Deixava de ser só praia de verão e destino de excursão de farofeiro, para receber os primeiros viajantes atraídos pelas águas mansas, um belo morro de areia e novos equipamentos gastronômicos.
Se é que se pode classificar assim as barracas cobertas de palha que guardavam pequenos barcos de pesca e nos fins de semana viravam bares e restaurantes.
Improvisados, rústicos, pobremente equipados e meio selvagens.
Homens do mar, depois barmen.
Donas de casa, chefes de cozinha.
Um deles criou fama.
E point de descolados e alternativos.
Pescador, morador da Vila, Santiago foi o mais bem sucedido entre os dinossauros do receptivo praieiro.
Sua clientela, jovens, famílias com crianças e quem mais chegasse procurando o sossego de uma praia semideserta.
Cardápio reduzidíssimo, com pièce de résistance, caranguejo ao molho de côco.
A família que ocupou uma mesa próxima, não levava o menor jeito de ser nativa.
Pareciam turistas acidentais.
Estudavam o ambiente e os silvícolas como se quisessem se comportar, na Londres nordestina, como os londrinos.
Mal equilibrado no tamborete bamboleante, um menino observava como os crustáceos eram esquartejados.
Não se conteve e soltou o comentário demonstrando a perplexidade dos visitantes com o ambiente inóspito, cozinha excêntrica e os quase canibais:
–Mãe, eles comem até o cérebro!
(Textículo publicado quando Ponta Negra ainda não havia começado a engordar, em 15/03/2019)