10 de maio de 2024
Memória

A PRAIA DE SANTIAGO

O Morro do Careca e Ponta Negra (2020) – Flávio Freitas


Quando a
indústria  sem chaminés ainda era devaneio, Ponta Negra  já parecia  fadada à jóia da futura coroa.

Deixava de ser só praia de verão e destino de excursão de farofeiro, para receber os primeiros viajantes atraídos pelas águas mansas, um belo morro de areia e novos equipamentos gastronômicos.

Se é que se pode classificar assim as barracas cobertas de palha que  guardavam pequenos barcos de pesca e nos fins de semana viravam  bares e restaurantes.

Improvisados, rústicos, pobremente equipados e meio selvagens.

Homens do mar, depois barmen.

Donas de casa, chefes de cozinha.

Um deles criou fama.

E point de descolados e alternativos.

Pescador, morador da Vila,  Santiago foi o mais bem sucedido entre os dinossauros do receptivo praieiro.

Sua clientela, jovens, famílias com crianças e quem mais chegasse procurando o sossego de uma praia semideserta.

Cardápio reduzidíssimo, com pièce de résistance, caranguejo ao molho de côco.

A família que ocupou uma mesa próxima, não levava o menor jeito de ser nativa.

Pareciam turistas acidentais.

Estudavam o ambiente e os silvícolas como se quisessem se comportar, na Londres nordestina, como os londrinos.

Mal equilibrado no tamborete bamboleante, um menino   observava como os crustáceos eram esquartejados.

Não se conteve e soltou o comentário demonstrando a perplexidade dos visitantes com o ambiente inóspito, cozinha excêntrica e os quase canibais:

Mãe, eles comem até o cérebro!

 

Deus te guie (1922) – Flávio Freitas – @flaviofreitasatelie

(Textículo publicado quando Ponta Negra ainda não havia começado a engordar, em 15/03/2019)

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